sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Homem e a sua sexualidade a partir das Ciências Humanas - Conclusão

por Tiago Eurico de Lacerda

4. Conclusão


Diante desta realidade complexa concluímos que o homem deseja mais do que ser ele mesmo, saber quem ele é. Mas não sabe ao certo o que ele é e até onde ele é o que pensa que é, pois a sociedade dita normas que devem ser observadas e quem não se encaixa dentro destas normas é tido como anormal. O homem nas ciências humanas excluiu o natural para dar abertura as ciências que dizem a partir de suas respectivas áreas o que é o homem, mas o que conseguiram fazer é dizer sobre aspectos da vida do homem e não chegar à profundidade de dizer quem ele é realmente. Diante deste impasse o homem se torna discurso, linguagem e pode ser o que sua linguagem permite que seja. A nossa cultura nos possibilitou uma língua, crenças e achamos que fazemos o que queremos com tudo isso, mas só fazemos o que nos é determinado. A nossa sexualidade por mais que optamos em fazer o que queremos com ela, isto já é uma construção de algo que já existe e que de alguma forma tendemos ir de encontro com a nossa própria natureza, nos contentando com as informações de nossa vida psíquica que achamos que sabemos como é, mas não podemos e tampouco nós que a alimentamos do que queremos.


Referências:

FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 8.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. Trad. S. T. Muchail.
FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, Política. 2.ed.Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
NOVAES, Adauto. A condição humana: As aventuras do homem em tempo de mutações. São Paulo: Agir, 2009.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Homem e a sua sexualidade a partir das Ciências Humanas - Parte III

por Tiago Eurico de Lacerda

3. Compreender a sexualidade do homem na sociedade hodierna

Quando falamos em sexualidade, logo nos remetemos à noção de genitalidade, o que é muito comum na sociedade atual. O sexo como visto pelas ciências humanas é algo que o homem recebeu, mas o que fazer com este sexo é algo propriamente construído. Não podemos estabelecer parâmetros para a vivência deste como faz a sociedade dividindo de uma forma dualista entre machos e fêmeas. Mas devemos observar este fenômeno com suas complexidades e experiências na modernidade.

Precisamos verdadeiramente de um verdadeiro sexo? Com uma constância que beira a teimosia as sociedades do acidente moderno responderam afirmativamente a essa pergunta. Elas obstinadamente fizeram intervir esta questão do “verdadeiro sexo” em uma ordem de coisas na qual se podia imaginar que apenas contam a realidade dos corpos e a intensidade dos prazeres. [1]

Percebe-se como a sociedade com seu aparelho repressor tem o poder de manipular a vida das pessoas levando-as a reproduzir o que está contido como valores socialmente aceitos. Dentre estes é apresentada a sexualidade monogâmica heterossexual, como também a opressão das mulheres e de uma forma grosseira a desigualdade social que é tida como natural. Desta forma, contestar estas práticas seria anormal porque este padrão já está estabelecido na sociedade. Perpassamos pelo discurso da homossexualidade que levaria consigo a questão se é natural ou não, contudo o importante resguardar os direitos que cada um tem de ter a sua orientação sexual e não ser punido por isto.

Somos tolerantes em relação as práticas que transgridem as leis. Porém continuamos a pensar que algumas delas insultam a “verdade”: um homem “passivo”, uma mulher “viril”, pessoas do mesmo sexo que se amam. Talvez haja a disposição de admitir que isto não é um grave atentado à ordem estabelecida, porém estamos sempre prontos a acreditar que há nelas um grave “erro”. [2]

Este erro é entendido no sentido mais filosófico que aponta uma maneira de fazer que não é adequada à realidade. Mas que, sobretudo não estando em consonância com o socialmente admissível é levada a ideia de um sexo único e verdadeiro e que cada pessoa deve desempenhar o seu papel na sociedade de acordo com o seu sexo. Devido a estes ideais muitas pessoas se fecham em seus mundos deixando de ser elas mesmas e forçando uma vida que não corresponde ao seu desejo interno e muitas vezes formação biológica, para satisfazerem a demanda social. Em alguns lugares como na índia este tema é mais difícil de perceber porque a afetividade entre homens é mais assídua que no ocidente que olha para eles com preconceitos e julgam ser ações antinaturais, enquanto são apenas ações culturais e socialmente aceitas. Encontramos aqui o ser humano que não sabe ao certo o que ele é, não só na sua sexualidade, mas em sua vida e sociedade. Este homem não pode dominar o que faz, pois a sua natureza própria consiste em opor-se à natureza que está fora de si. Este homem e sua sexualidade é fruto de uma construção social que não pode dar conta de si mesmo, quedando-se sem respostas diante de tal impasse.


[1] FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, Política. p.82.
[2] FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, Política. p.85.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Homem e a sua sexualidade a partir das Ciências Humanas - Parte II


por Tiago Eurico de Lacerda

2. O conceito de homem a partir das ciências humanas

Como já explicitado na introdução o homem foi tomado pelas ciências humanas como objeto. Cada ciência estuda o homem a partir de sua especificidade. O que muda com as ciências humanas é a imagem global do homem.

A ideia de ciência humana implica, com efeito, que o homem não é sujeito, nem sujeito cognoscitivo (ele não sabe o que é, e cabe então a ciência dizê-lo) nem sujeito de ação, (pouco importa que ele pensa, ele não domina suas próprias ações e a ciência mostra isso). [1]

Se o homem não sabe o que é e não pode dizê-lo como entendê-lo nesta dinâmica social que continua atribuindo à ciência o poder de dizer as coisas de forma irrefutável? Como poderemos dizer então que é o homem, se ele mesmo não sabe o que é? O que a ciência concluiu com suas implicações a cerca desta problemática? As ciências já disseram sobre as relações sociais deste homem, e esta área ficou a cargo da sociologia, a cultura deu conta de dizer sobre a etnologia, a história sobre os rumos do homem e assim se segue. E além do homem não ter acesso a si mesmo, o que está ao seu alcance não pode ser tido como certeza, levando o homem ao engano.

As ciências humanas não são uma análise do que o homem é por natureza; são antes uma análise que se estende entre o que o homem é em sua positividade (ser que vive, trabalha, fala) e o que permite a esse mesmo saber (ou buscar saber) o que é a vida, em que consistem a essência do trabalho e suas leis, e de que modo ele pode falar. [2]

Percebemos aqui que este homem do qual trata as ciências humanas é um homem histórico, tudo nele é herdado. Ele vive porque participa da vida que também é legada aos outros seres; ele trabalha, pois precisa de se inserir na sociedade pelo labor onde extrairá o seu sustento e o de sua família; e ele é dotado de fala que delimita seu mundo e comunicação. Mas podemos também levantar a questão de que o homem não é, ele próprio, histórico pelo fato de ter de constituir sua história submetido às transformações nas condições de vida, nas formas e nos usos da língua. Ele é protagonista nessas histórias, já que é ele quem vive, quem fala, quem produz e consome. Assim, pela primeira vez, pensou-se o homem como um ser exposto aos acontecimentos.

[...] uma vez que o homem histórico é o homem que vive, trabalha e fala, todo conteúdo da História [...] concerne à psicologia, à sociologia ou às ciências da linguagem. Mas, inversamente, uma vez que o ser humano se tornou, de ponta a ponta, histórico, nenhum dos conteúdos analisados pelas ciências humanas pode ficar estável em si mesmo nem escapar ao movimento da História. [3]

Assim podemos dizer que as ciências humanas nos mostram que sempre haverá maneira de pensar o que já foi pensado de uma forma diferente. Mas concluímos com o seguinte pensamento de que o homem das ciências humanas é este ser que não pode dar conta do que ele é, nem dominar o que faz cuja natureza própria consiste em opor-se a natureza fora dele. Mas as ciências humanas não admitem um dualismo cartesiano, são antinaturalistas. Rejeitam que somos seres naturais porque nós nos inventamos e nos reinventamos a todo o momento. Assim desloca-se o eixo da consciência de ser um ser que pensa, para ser um ser do discurso.

[1] NOVAES, Adauto. A condição humana. p.47.

[2] FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. p.488.
[3] FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. p.513.

domingo, 15 de agosto de 2010

O Homem e a sua sexualidade a partir das Ciências Humanas - Parte I

por Tiago Eurico de Lacerda

Este é um pequeno artigo que escrevi relacionando a sexualidade humana com as ciências humanas. Esta é a Parte I, contém a introdução do trabalho. A segunda parte conceitua o homem a partir desta Ciência, a terceira pate compreende a sexualidade do homem na sociedade hodierna e a  última parte é uma conclusão.

1. Introdução

O homem tem sido pauta de discussões filosóficas ao longo dos anos, mas quanto mais se descobre sobre este ser mais se compreende que não sabemos nada sobre ele. Descobrimos com a tecnologia e a ciência, avanços incríveis como a primeira célula sintética com DNA montado totalmente a partir de informações vindas de computador, ela ganha vida e como se não bastasse passa a se multiplicar em laboratório.

A natureza biológica do homem passa a não ser mais um mistério, este se desvenda com a aurora de novas pesquisas; passa a deixar traços de segredos, que são, no entanto, não impossíveis, de se conhecer. Agora percebemos que o homem não está na natureza, está fora dela e assim ele pode conhecê-la e dominá-la. O homem é o sujeito conhecedor, mas a partir da revolução científica da idade clássica, este também vai poder se tornar objeto científico. E como mostra M. Foucault, “antes do fim do século XVIII o homem não existia”[1]. Ele introduz este pensamento para dizer que muito se dizia de ações humanas, mas agora é preciso redefini-lo de uma maneira diferente e o que muda com as ciências humanas é a imagem global do homem.

Com o presente trabalho apresentaremos homem diante de sua sexualidade, um problema que afetou toda a humanidade e até hoje assola o homem em sua vida. Sempre se falou sobre este tema, mas hoje urge uma nova linguagem para abordar tal questão com sua complexidade. Assim como discorremos sobre a criação do homem podemos dizê-la relacionada à sua sexualidade. O sexo é da natureza do homem, mas a sexualidade é o homem que cria. Seja a partir da cultura em que está inserido com seus mecanismos de repressão ou valores estipulados. Esta problemática se faz necessária ser abordada, pois quando o homem não é compreendido e por uma força maior reprime seus instintos e sexualidade, este deixa de ser ele mesmo para se tornar um produto social com os selos erotizados que a sociedade estabelece.

[1] NOVAES, Adauto. A condição humana. p.46

Felicidade


Por João Paulo Leal Meireles


À Rita. Indefinível e surpreendente Rita.

Um dia me disseram que felicidade é sentir-se bem com aquilo que você tem; que você precisa ter consciência do que está ao seu alcance e buscar ser feliz sem esperar atingir este ou aquele objetivo.

Sabe que é verdade? Enquanto busquei algo que não estava ao meu alcance, enquanto quis me moldar para agradar a alguém, eu nunca experimentei a verdadeira felicidade.

A partir do dia em que eu comecei a me sentir bem com aquilo que sou e que tenho, fui invadido por uma sensação de bem-estar, uma alegria nas pequenas coisas da vida. Eu acreditava que o espelho é que deveria gostar de mim, mas eu estava errado. Eu é que deveria gostar do espelho.

Isso não quer dizer, é claro, que você deva viver a “síndrome de Gabriela”: eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim, vou ser sempre assim. Claro que não. Você é a única pessoa capaz de impor limites a si mesmo.

Acredite em seu potencial. Melhore seus pensamentos. Isso irá refletir nos seus sentimentos, que irá refletir nos seus relacionamentos, que irá refletir na maneira como os outros te vêem... e por aí vai.

Mas nunca perca de vista a sua essência. Nunca espere ter ou ser algo para ser feliz. O presente não será uma dádiva se você sempre esperar por algo no futuro para sentir-se bem.

Aliás, não pense muito no futuro. Ele é só uma expectativa. Olhe em volta, veja as inúmeras possibilidades de felicidade que estão ao seu alcance e abrace-as. Aprenda com os erros passados e aproveite disso para tornar-se uma pessoa melhor.

Enfim, lute por aquilo que você deseja, mas não espere que essa meta seja alcançada para só então ser feliz. Comece por ser feliz agora!

A felicidade é algo que só existe no presente e para alcançá-la basta que você saiba como encarar a vida. Você pode esperar a vida toda pela conquista de algo ou pode começar a ser feliz agora mesmo com aquilo que você tem. Só depende de você.

O ser humano integral


por Izaque Real

Falar de ser humano integral é falar da pessoa nos seus diferentes aspectos, procurando mostrar que ela não deve ser reduzida a um único ponto, mas vista na sua totalidade. A integralidade humana é fundamental para que se entenda o homem nas suas diversas manifestações. Todavia, a integralidade humana nem sempre foi pensada dessa forma. O humanismo ou os humanismos que se desenvolveram, dificilmente enfocava o ser humano como ser integrado, como um todo, onde suas partes estão interligadas.

O homem moderno, por exemplo, distanciou-se de si mesmo. Ele foi reduzido a matéria e pensamento. A modernidade apresentou para a sociedade um antropocentrismo exacerbado, onde o ser humano era capaz de tudo. A realidade racionalista e também empirista levou o homem a abandonar a ideia de transcendência, fixando-se no imanente.

O humanismo moderno, que tem sua fonte no Renascimento (fins do século XIV), concentrou nas mãos do homem um poder de se autogerar. Tentando solucionar os problemas de sua existência, o ser humano procurou eliminar a questão de Deus. No entanto, isso o conduziu ao esvaziamento do significado de humano, no sentido integral.

O homem para preencher este vazio ocupou-se de coisas terrenas, caindo num consumismo e utilitarismo, derivados da concepção de mundo moderna. O homem passa a ser um objeto, sendo manipulado de acordo com sua utilidade. O ser humano deixa, portanto, de ser interpretado na sua integralidade. Um aspecto e outro acabam adquirindo importância em detrimento do todo da pessoa e de seu conjunto de caracteres que a denomina como “humano”.

É diante dessa concepção de ser humano que aparece o Humanismo Integral. Humanismo este desenvolvido pelo pensador francês, Jacques Maritain (1882-1973). Maritain procura com o humanismo integral resgatar a ideia de homem que está aberto ao transcendente. Para isso, ele busca conciliar cristianismo e humanismo, já que na modernidade, esta junção tornara-se impossível, pois a visão de “super homem” era um dos modos pelo qual uma sociedade era considerada perfeita e bem desenvolvida. Enfim, Maritain propõe uma nova significação para o termo humanismo diferente do pensamento moderno.

O humanismo maritanista “tende essencialmente a tornar o homem mais verdadeiramente humano, e a manifestar sua grandeza original, fazendo-o participar de tudo o que, na natureza e na história [...] o possa enriquecer; suas exigências são exaustivas, levando o homem a desenvolver suas virtualidades intrínsecas, suas forças criativas e a vida da razão, se esforçando também a transformar as forças do mundo físico em instrumentos de sua liberdade”. (MARITAIN, 1945, p. 298).

Contrapondo ao idealismo moderno, Maritain ressalta que o humanismo deve atingir dimensões que vão além do imanente, pois o ser humano não é somente biológico ou social, mas ele é também transcendente. O ser humano integral pensado por Maritain é fundamentado na perspectiva cristã. Segundo ele, a ação da pessoa passa do puramente material para o espiritual. O homem como pessoa apóia-se num fundamento transcendente, na abertura a Deus. Desse modo, o humanismo integral reconhece o ser humano nas suas várias dimensões, como sujeito cultural e social, psicológico e espiritual, imanente e transcendental.

O ser humano, enfim, não é um ser reduzível, mas um ser aberto, aberto principalmente ao absoluto, que é Deus. Deus que fora colocado de lado pela época moderna, por esta ser extremamente antropocêntrica, agora na visão humanista de Maritain recebe sua devida consideração, já que para o pensador francês, espiritual e temporal caminham juntos e adquire para a sociedade uma nova forma de ser e existir. O ser humano é um todo e torna-se impossível compreendê-lo por completo senão reconhecer sua integralidade.

MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1945.

sábado, 7 de agosto de 2010

Novos hóspedes em casa - Parte I


Por Emerson Alves dos Santos

Moro em uma casa enorme; na verdade quase uma mansão. Familiares não moram comigo, mas também não moro só; moro com alguns hóspedes. Sim, hóspedes. Gosto de dar abrigo às pessoas e, já que espaço em casa não falta, por que não fazê-lo? Há alguns meses chegaram novos hóspedes, e eu vou lhes contar hein! Como são bagunceiros esses novatos! Nem bem chegaram e já instalaram a desordem em minha casa. Parecem até o furacão Katrina, destruindo parte dos EUA. Nunca coloquei ninguém para fora de casa. Meus hóspedes chegam, ficam algum tempo e depois vão embora por si próprios. Alguns ainda retornam com o passar do tempo; outros creio que nunca mais verei; muitos moram comigo há anos. Mas, como estava dizendo, nunca alguém foi expulso. Porém esses novos não me deram outra escolha; exigi que se retirassem, mas eles recusaram. Vocês acreditam nisso?! Recusaram-se a sair de minha casa! Que absurdo! Não, isso não é correto, a casa é minha e nela mora quem eu quero. Disse a eles que se não saíssem iria chamar a polícia para tirá-los à força e sabem o que me responderam? Que não adiantaria eu expulsá-los não, pois eles retornariam, mais cedo ou mais tarde, e em número ainda maior. Não, basta! Se somente esses poucos já fizeram uma baderna enorme, imaginem um número maior! Parece até loucura, mas acabei deixando-os ficar. E foi a partir daí que minha vida começou a mudar...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Orfandade



Por Joice Giachini

Recentemente, estando em contato com uma das obras apostólicas que minha família religiosa coordena, tive a oportunidade de conhecer a realidade de um grupo de crianças órfãs. Todavia, soa estranho se dirigir a elas dessa forma, seus genitores não morreram, essas crianças foram afastadas de sua parentela devido à violência doméstica que sofriam, tornando inconcebível sua permanência junto aos seus consanguíneos: são órfãos de pais vivos. Para seguir para a adoção essas crianças precisam fazer algo extremamente cruel, que destoa com a candura de seus corações: viver quase uma situação de óbito de seus genitores, para novamente, talvez, chamar outras pessoas de pais.

Além da tristeza que essa situação despertou em mim, pensava que essa mesma vicissitude é sentida e experimentada por centenas de pessoas. Contudo, agora, me dirijo à dimensão espiritual do ser humano: homens e mulheres que se comportam como se fossem órfãs de um Pai que está vivo. Tais pessoas fizeram a opção de viver como se a sua existência não estivesse ligada a Deus. Nessa alternativa de vida se despreza a carência que o ser humano possui de uma história que o ligue aos demais homens, que indique sua procedência e que produza laços de irmandade.

Nietzsche, de certa forma, ao proclamar a morte de Deus, profetizara essa falta de conjuntura. Alguém que aceite essa premissa declara inconscientemente que acredita em sua orfandade.

Depois disso, o problema se acentua onde enfim se colocará sentido para a historicidade da humanidade, cala dentro de cada indivíduo um questionamento essencialmente existencialista: "De onde viemos?... O que estamos fazendo aqui?" e "Para onde vamos?" E mais, se a orfandade fosse mesmo real, quem e o que poderá assumir a adoção do gênero humano?

Talvez o que a humanidade precisa urgentemente é ouvir a feliz proclamação de que Deus está vivo! No hodierno pouco ou nada se fala Dele, e quando se faz, é de forma equivocada. Ele está vivo e é Pai! É preciso encontrá-Lo no coração, para que Ele seja a referência da grande viajem que todo ser humano efetua no transcurso da vida.

Mesmo que o céu se vire e não haja paz, um ponto fixo permanecerá. Deus é a estrela segura, tudo gira em torno Dele, em função Dele, não importa como, onde, quando. Deus é Pai, Ele aconchega cada um de seus filhos quando a frieza do mundo os vergasta. Quando há lágrimas e dor, Deus visita seus rebentos e os conforta. O sofrimento que a recusa do reconhecimento da filiação divina causa no Coração de Deus é proporcional ao Seu amor pela humanidade.

Definitivamente Deus é Pai, porque renova Seus ensejos das realizações que sonha para a humanidade, permitindo o avanço gradual e contínuo dos Seus filhos, no rumo da vivência feliz que todos anelamos. Deus nos criou para a perfeição, aguardando que galguemos os degraus da santidade, no rumo dos altos céus.
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