segunda-feira, 12 de julho de 2010

Saudade


Por João Paulo Leal Meireles

A senhorita Clara morava na casa amarela, na Avenida Presidente Antônio Carlos, número 25. Todos os dias, pontualmente às dezessete horas e quinze minutos, ela sentava-se na cadeira de balanço na varanda de sua casa para esperar o filho chegar da escola. Isso era tudo o que os vizinhos sabiam sobre ela, já que Clara nunca teve ou procurou ter amizades na vizinhança.

Geralmente Bruninho chegava a sua casa entre dezessete e vinte e dezessete e vinte e cinco, e nunca aconteceu de ele chegar sem que sua mãe estivesse ali na varanda a espera dele. Bruninho era o único fruto bom que Clara trazia consigo daquela violação sexual, sofrida ainda na juventude.

Depois do nascimento do filho, Clara nunca se interessou por homem algum e dedicava a vida exclusivamente a cuidar do pequeno Bruno. Pequeno mesmo, pois Bruninho sempre foi franzino, frágil e incapaz de fazer mal a um pequeno animal, até mesmo àqueles dos quais ele não gostava muito.

E por todos os dias nos quais Bruninho ia à escola o ritual se repetia. Até que um dia aconteceu algo diferente: Bruninho não retornou. Nem às dezessete e vinte, nem às dezessete e vinte e cinto e nem mesmo às dezessete e trinta. A senhorita Clara não soube o que fazer e começou então a entrar em pânico.

Eis que um pouco mais tarde chega à casa amarela uma senhora de idade já avançada, cabelos grisalhos e com aquela aparência de quem leciona há muitos anos. Era dona Carmem, diretora do colégio no qual Bruninho estudava. Ela estava ali para dizer à mãe de Bruninho que seu filho havia sido atropelado bem em frente à escola, logo que a aula terminou e que quando a equipe médica chegou, nada pôde ser feito.

— É mentira! Gritou a mãe desesperada enquanto parecia se desfazer em prantos. A senhora não pode estar falando a verdade. Meu Bruninho vai voltar, ele sempre volta.

Então a senhorita Clara bateu com a porta na cara de dona Carmem. A diretora do colégio percebeu que a mãe de Bruninho não reagiu muito bem à notícia da morte do filho e procurou contatar outros parentes do menino.

E eis que quando a avó de Bruninho chega à casa amarela, na Avenida Presidente Antônio Carlos, não vê Clara sentada na varanda, mas vê a porta aberta. Ao entrar, a avó de Bruninho vê sua filha caída no chão segurando um bilhete que dizia: Meu filho atrasou mais do que o de costume, senti saudades e fui ao encontro dele. Não demoro.

Um comentário:

Painel X - New Writers disse...

Caro João Paulo,
Não me contive após ler o seu conto. Pensei em escrever um comentário imediatamente. João, as vezes tomamos tanta posse das pessoas que estão em nossa volta que ao perdê-las não suportamos, somos crueis conosco mesmos a ponto de ferir não somente o nosso coração, mas o nosso psicológico e também a nossa vida. Seu conto é brilhante, realmente diferente dos outros, mas sem perder a essência de falar da vida e da sensibilidade do sofrimento que todos nós estamos propensos a passar. Espero que um dia possamoa aprender mais sobre a vida para evitar tantas mortes, tantas feridas, tantas dores...
O Editor.

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