domingo, 21 de novembro de 2010

TEMPO E VIDA



Por Izaque Real

Somos seres marcados pelo tempo. A nossa existência se dá no tempo. O que existe no universo sofreu a influência do tempo. Enquanto seres terrenos dificilmente conseguiremos fugir dos laços do tempo.

O tempo está entrelaçado com a vida. Ele faz parte da trama da evolução humana e dos demais elementos viventes do nosso planeta. O tempo “juntou a vida à matéria e, depois, o pensamento à vida. Foi o tempo que teceu, dia após dia, a fantástica aventura da evolução...” (STEIGER, 1998, p. 205). Não é possível pensar o desenvolvimento da humanidade sem fazer referência ao tempo.

No tempo muitas coisas se constroem e se criam e outras se desfazem. A vida em si mesma, do nascer, crescer e morrer é submetida a ele. O tempo deixa seus vestígios na vida humana e no universo. Todavia, o ser humano, para não ficar a mercê do tempo, procurou marcá-lo de alguma forma. Temos presente na cultura humana, não por acaso, o calendário e o relógio, entre outros instrumentos que se tornaram uma forma de o ser humano dominar o tempo. Mas, o tempo apesar de estar marcado, ele não deixou de continuar o seu caminho, imprimindo em cada ser suas façanhas. Basta olharmos para o espelho e ao nosso redor. Quantas mudanças!

Dizia o filósofo Heráclito (séculos VI - V a.C): “Não se pode pisar duas vezes nos mesmos rios, pois as águas novas estão sempre fluindo sobre ti” (RUSSELL, 1969, p. 52). Na verdade, sob o jugo do tempo, nada volta a ser o que era antes. Um momento vivido já não volta mais. O tempo transforma a vida e esta é modificada por ele. Diante disso, o que fazer? Tem como desprender-nos do tempo?

Parece difícil escapar das garras do tempo. Entretanto, o ser humano com seu poder criativo procura com grande persistência algo que não esteja sujeito ao domínio do tempo. Nesse sentido é interessante pensarmos a questão da eternidade, pois não poucos mantem sua esperança nela. Visto que com a morte, a pessoa entra numa nova dimensão, no eterno, que não cabe a nós discursar neste momento. Com a ação do tempo estamos em mudança, porém o ser humano e a nossa consciência ocidental busca o imutável.

Contudo, é importante percebermos que o tempo nos conduz a pensar a nossa vida dando a ela um sentido. Um sentido que pode ultrapassar o tempo. Daí a necessidade de cada um lançar sobre o mundo em que vive a consciência de existir para algo, pois sabendo que o tempo de nossa vida é finito, torna-se um imperativo conduzi a nossa existência da melhor forma possível. Enfrentar os acontecimentos cotidianos com um novo olhar, mesmo quando estes são de sofrimento e dor. Buscar fazer da vida algo belo. Tornar a vida bela subjugada ao domínio do tempo é um desafio que exige a coragem de todos os seres humanos.

RUSSELL, Bertrand. Obras Filosóficas: História da Filosofia Ocidental I. Vol. 23. Trad. Breno Silveira. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional, 1969.

STEIGER, André. Compreender a história da vida: do átomo ao pensamento humano. Trad. Benôni Lemos. São Paulo, SP: Paulus, 1998.

sábado, 4 de setembro de 2010

Mais


Por João Paulo Leal Meireles

Ponha freio em seus sentimentos e viva a vida pela metade. Procure sempre o meio termo, a ponderação. A vida é mais fácil se você não se permitir apaixonar-se. Tome isso para você, pois não é isso que quero para mim.

Nunca me contive diante de uma dificuldade, nunca hesitei diante de um obstáculo, nunca temi um desafio. Venha a mim ocasião e eu me entregarei de corpo e alma, darei o melhor de mim e se merecer, terei a minha vitória.

Eu quero mais. Mais amor, mais dedicação, mais carinho, mais sinceridade, mais emoção, mais vitórias, mais, mais, mais. A subida é árdua e talvez impossível se você não estiver disposto a enfrentá-la, mas eu quero estar no topo e contemplar a vista que os que temem a escalada jamais irão contemplar.

E depois de estar no topo, depois de ver o que poucos podem ver eu quero me jogar. Quero me jogar no espaço infinito e sentir o vento, a paz, a liberdade. Quero ouvir meus pensamentos, quero ter a mente aberta, quero sentir os meus sentimentos.

E mesmo buscando a paz eu quero a guerra. Declaro guerra a todo comodismo, a toda estabilidade, a toda situação. Eu quero mais é ser oposição. Quero experimentar todos os sabores que a vida pode me oferecer e quando tiver de escolher, escolho aquele que mais feliz me fizer.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O Homem e a sua sexualidade a partir das Ciências Humanas - Conclusão

por Tiago Eurico de Lacerda

4. Conclusão


Diante desta realidade complexa concluímos que o homem deseja mais do que ser ele mesmo, saber quem ele é. Mas não sabe ao certo o que ele é e até onde ele é o que pensa que é, pois a sociedade dita normas que devem ser observadas e quem não se encaixa dentro destas normas é tido como anormal. O homem nas ciências humanas excluiu o natural para dar abertura as ciências que dizem a partir de suas respectivas áreas o que é o homem, mas o que conseguiram fazer é dizer sobre aspectos da vida do homem e não chegar à profundidade de dizer quem ele é realmente. Diante deste impasse o homem se torna discurso, linguagem e pode ser o que sua linguagem permite que seja. A nossa cultura nos possibilitou uma língua, crenças e achamos que fazemos o que queremos com tudo isso, mas só fazemos o que nos é determinado. A nossa sexualidade por mais que optamos em fazer o que queremos com ela, isto já é uma construção de algo que já existe e que de alguma forma tendemos ir de encontro com a nossa própria natureza, nos contentando com as informações de nossa vida psíquica que achamos que sabemos como é, mas não podemos e tampouco nós que a alimentamos do que queremos.


Referências:

FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 8.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. Trad. S. T. Muchail.
FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, Política. 2.ed.Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
NOVAES, Adauto. A condição humana: As aventuras do homem em tempo de mutações. São Paulo: Agir, 2009.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Homem e a sua sexualidade a partir das Ciências Humanas - Parte III

por Tiago Eurico de Lacerda

3. Compreender a sexualidade do homem na sociedade hodierna

Quando falamos em sexualidade, logo nos remetemos à noção de genitalidade, o que é muito comum na sociedade atual. O sexo como visto pelas ciências humanas é algo que o homem recebeu, mas o que fazer com este sexo é algo propriamente construído. Não podemos estabelecer parâmetros para a vivência deste como faz a sociedade dividindo de uma forma dualista entre machos e fêmeas. Mas devemos observar este fenômeno com suas complexidades e experiências na modernidade.

Precisamos verdadeiramente de um verdadeiro sexo? Com uma constância que beira a teimosia as sociedades do acidente moderno responderam afirmativamente a essa pergunta. Elas obstinadamente fizeram intervir esta questão do “verdadeiro sexo” em uma ordem de coisas na qual se podia imaginar que apenas contam a realidade dos corpos e a intensidade dos prazeres. [1]

Percebe-se como a sociedade com seu aparelho repressor tem o poder de manipular a vida das pessoas levando-as a reproduzir o que está contido como valores socialmente aceitos. Dentre estes é apresentada a sexualidade monogâmica heterossexual, como também a opressão das mulheres e de uma forma grosseira a desigualdade social que é tida como natural. Desta forma, contestar estas práticas seria anormal porque este padrão já está estabelecido na sociedade. Perpassamos pelo discurso da homossexualidade que levaria consigo a questão se é natural ou não, contudo o importante resguardar os direitos que cada um tem de ter a sua orientação sexual e não ser punido por isto.

Somos tolerantes em relação as práticas que transgridem as leis. Porém continuamos a pensar que algumas delas insultam a “verdade”: um homem “passivo”, uma mulher “viril”, pessoas do mesmo sexo que se amam. Talvez haja a disposição de admitir que isto não é um grave atentado à ordem estabelecida, porém estamos sempre prontos a acreditar que há nelas um grave “erro”. [2]

Este erro é entendido no sentido mais filosófico que aponta uma maneira de fazer que não é adequada à realidade. Mas que, sobretudo não estando em consonância com o socialmente admissível é levada a ideia de um sexo único e verdadeiro e que cada pessoa deve desempenhar o seu papel na sociedade de acordo com o seu sexo. Devido a estes ideais muitas pessoas se fecham em seus mundos deixando de ser elas mesmas e forçando uma vida que não corresponde ao seu desejo interno e muitas vezes formação biológica, para satisfazerem a demanda social. Em alguns lugares como na índia este tema é mais difícil de perceber porque a afetividade entre homens é mais assídua que no ocidente que olha para eles com preconceitos e julgam ser ações antinaturais, enquanto são apenas ações culturais e socialmente aceitas. Encontramos aqui o ser humano que não sabe ao certo o que ele é, não só na sua sexualidade, mas em sua vida e sociedade. Este homem não pode dominar o que faz, pois a sua natureza própria consiste em opor-se à natureza que está fora de si. Este homem e sua sexualidade é fruto de uma construção social que não pode dar conta de si mesmo, quedando-se sem respostas diante de tal impasse.


[1] FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, Política. p.82.
[2] FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, Política. p.85.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Homem e a sua sexualidade a partir das Ciências Humanas - Parte II


por Tiago Eurico de Lacerda

2. O conceito de homem a partir das ciências humanas

Como já explicitado na introdução o homem foi tomado pelas ciências humanas como objeto. Cada ciência estuda o homem a partir de sua especificidade. O que muda com as ciências humanas é a imagem global do homem.

A ideia de ciência humana implica, com efeito, que o homem não é sujeito, nem sujeito cognoscitivo (ele não sabe o que é, e cabe então a ciência dizê-lo) nem sujeito de ação, (pouco importa que ele pensa, ele não domina suas próprias ações e a ciência mostra isso). [1]

Se o homem não sabe o que é e não pode dizê-lo como entendê-lo nesta dinâmica social que continua atribuindo à ciência o poder de dizer as coisas de forma irrefutável? Como poderemos dizer então que é o homem, se ele mesmo não sabe o que é? O que a ciência concluiu com suas implicações a cerca desta problemática? As ciências já disseram sobre as relações sociais deste homem, e esta área ficou a cargo da sociologia, a cultura deu conta de dizer sobre a etnologia, a história sobre os rumos do homem e assim se segue. E além do homem não ter acesso a si mesmo, o que está ao seu alcance não pode ser tido como certeza, levando o homem ao engano.

As ciências humanas não são uma análise do que o homem é por natureza; são antes uma análise que se estende entre o que o homem é em sua positividade (ser que vive, trabalha, fala) e o que permite a esse mesmo saber (ou buscar saber) o que é a vida, em que consistem a essência do trabalho e suas leis, e de que modo ele pode falar. [2]

Percebemos aqui que este homem do qual trata as ciências humanas é um homem histórico, tudo nele é herdado. Ele vive porque participa da vida que também é legada aos outros seres; ele trabalha, pois precisa de se inserir na sociedade pelo labor onde extrairá o seu sustento e o de sua família; e ele é dotado de fala que delimita seu mundo e comunicação. Mas podemos também levantar a questão de que o homem não é, ele próprio, histórico pelo fato de ter de constituir sua história submetido às transformações nas condições de vida, nas formas e nos usos da língua. Ele é protagonista nessas histórias, já que é ele quem vive, quem fala, quem produz e consome. Assim, pela primeira vez, pensou-se o homem como um ser exposto aos acontecimentos.

[...] uma vez que o homem histórico é o homem que vive, trabalha e fala, todo conteúdo da História [...] concerne à psicologia, à sociologia ou às ciências da linguagem. Mas, inversamente, uma vez que o ser humano se tornou, de ponta a ponta, histórico, nenhum dos conteúdos analisados pelas ciências humanas pode ficar estável em si mesmo nem escapar ao movimento da História. [3]

Assim podemos dizer que as ciências humanas nos mostram que sempre haverá maneira de pensar o que já foi pensado de uma forma diferente. Mas concluímos com o seguinte pensamento de que o homem das ciências humanas é este ser que não pode dar conta do que ele é, nem dominar o que faz cuja natureza própria consiste em opor-se a natureza fora dele. Mas as ciências humanas não admitem um dualismo cartesiano, são antinaturalistas. Rejeitam que somos seres naturais porque nós nos inventamos e nos reinventamos a todo o momento. Assim desloca-se o eixo da consciência de ser um ser que pensa, para ser um ser do discurso.

[1] NOVAES, Adauto. A condição humana. p.47.

[2] FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. p.488.
[3] FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. p.513.

domingo, 15 de agosto de 2010

O Homem e a sua sexualidade a partir das Ciências Humanas - Parte I

por Tiago Eurico de Lacerda

Este é um pequeno artigo que escrevi relacionando a sexualidade humana com as ciências humanas. Esta é a Parte I, contém a introdução do trabalho. A segunda parte conceitua o homem a partir desta Ciência, a terceira pate compreende a sexualidade do homem na sociedade hodierna e a  última parte é uma conclusão.

1. Introdução

O homem tem sido pauta de discussões filosóficas ao longo dos anos, mas quanto mais se descobre sobre este ser mais se compreende que não sabemos nada sobre ele. Descobrimos com a tecnologia e a ciência, avanços incríveis como a primeira célula sintética com DNA montado totalmente a partir de informações vindas de computador, ela ganha vida e como se não bastasse passa a se multiplicar em laboratório.

A natureza biológica do homem passa a não ser mais um mistério, este se desvenda com a aurora de novas pesquisas; passa a deixar traços de segredos, que são, no entanto, não impossíveis, de se conhecer. Agora percebemos que o homem não está na natureza, está fora dela e assim ele pode conhecê-la e dominá-la. O homem é o sujeito conhecedor, mas a partir da revolução científica da idade clássica, este também vai poder se tornar objeto científico. E como mostra M. Foucault, “antes do fim do século XVIII o homem não existia”[1]. Ele introduz este pensamento para dizer que muito se dizia de ações humanas, mas agora é preciso redefini-lo de uma maneira diferente e o que muda com as ciências humanas é a imagem global do homem.

Com o presente trabalho apresentaremos homem diante de sua sexualidade, um problema que afetou toda a humanidade e até hoje assola o homem em sua vida. Sempre se falou sobre este tema, mas hoje urge uma nova linguagem para abordar tal questão com sua complexidade. Assim como discorremos sobre a criação do homem podemos dizê-la relacionada à sua sexualidade. O sexo é da natureza do homem, mas a sexualidade é o homem que cria. Seja a partir da cultura em que está inserido com seus mecanismos de repressão ou valores estipulados. Esta problemática se faz necessária ser abordada, pois quando o homem não é compreendido e por uma força maior reprime seus instintos e sexualidade, este deixa de ser ele mesmo para se tornar um produto social com os selos erotizados que a sociedade estabelece.

[1] NOVAES, Adauto. A condição humana. p.46

Felicidade


Por João Paulo Leal Meireles


À Rita. Indefinível e surpreendente Rita.

Um dia me disseram que felicidade é sentir-se bem com aquilo que você tem; que você precisa ter consciência do que está ao seu alcance e buscar ser feliz sem esperar atingir este ou aquele objetivo.

Sabe que é verdade? Enquanto busquei algo que não estava ao meu alcance, enquanto quis me moldar para agradar a alguém, eu nunca experimentei a verdadeira felicidade.

A partir do dia em que eu comecei a me sentir bem com aquilo que sou e que tenho, fui invadido por uma sensação de bem-estar, uma alegria nas pequenas coisas da vida. Eu acreditava que o espelho é que deveria gostar de mim, mas eu estava errado. Eu é que deveria gostar do espelho.

Isso não quer dizer, é claro, que você deva viver a “síndrome de Gabriela”: eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim, vou ser sempre assim. Claro que não. Você é a única pessoa capaz de impor limites a si mesmo.

Acredite em seu potencial. Melhore seus pensamentos. Isso irá refletir nos seus sentimentos, que irá refletir nos seus relacionamentos, que irá refletir na maneira como os outros te vêem... e por aí vai.

Mas nunca perca de vista a sua essência. Nunca espere ter ou ser algo para ser feliz. O presente não será uma dádiva se você sempre esperar por algo no futuro para sentir-se bem.

Aliás, não pense muito no futuro. Ele é só uma expectativa. Olhe em volta, veja as inúmeras possibilidades de felicidade que estão ao seu alcance e abrace-as. Aprenda com os erros passados e aproveite disso para tornar-se uma pessoa melhor.

Enfim, lute por aquilo que você deseja, mas não espere que essa meta seja alcançada para só então ser feliz. Comece por ser feliz agora!

A felicidade é algo que só existe no presente e para alcançá-la basta que você saiba como encarar a vida. Você pode esperar a vida toda pela conquista de algo ou pode começar a ser feliz agora mesmo com aquilo que você tem. Só depende de você.

O ser humano integral


por Izaque Real

Falar de ser humano integral é falar da pessoa nos seus diferentes aspectos, procurando mostrar que ela não deve ser reduzida a um único ponto, mas vista na sua totalidade. A integralidade humana é fundamental para que se entenda o homem nas suas diversas manifestações. Todavia, a integralidade humana nem sempre foi pensada dessa forma. O humanismo ou os humanismos que se desenvolveram, dificilmente enfocava o ser humano como ser integrado, como um todo, onde suas partes estão interligadas.

O homem moderno, por exemplo, distanciou-se de si mesmo. Ele foi reduzido a matéria e pensamento. A modernidade apresentou para a sociedade um antropocentrismo exacerbado, onde o ser humano era capaz de tudo. A realidade racionalista e também empirista levou o homem a abandonar a ideia de transcendência, fixando-se no imanente.

O humanismo moderno, que tem sua fonte no Renascimento (fins do século XIV), concentrou nas mãos do homem um poder de se autogerar. Tentando solucionar os problemas de sua existência, o ser humano procurou eliminar a questão de Deus. No entanto, isso o conduziu ao esvaziamento do significado de humano, no sentido integral.

O homem para preencher este vazio ocupou-se de coisas terrenas, caindo num consumismo e utilitarismo, derivados da concepção de mundo moderna. O homem passa a ser um objeto, sendo manipulado de acordo com sua utilidade. O ser humano deixa, portanto, de ser interpretado na sua integralidade. Um aspecto e outro acabam adquirindo importância em detrimento do todo da pessoa e de seu conjunto de caracteres que a denomina como “humano”.

É diante dessa concepção de ser humano que aparece o Humanismo Integral. Humanismo este desenvolvido pelo pensador francês, Jacques Maritain (1882-1973). Maritain procura com o humanismo integral resgatar a ideia de homem que está aberto ao transcendente. Para isso, ele busca conciliar cristianismo e humanismo, já que na modernidade, esta junção tornara-se impossível, pois a visão de “super homem” era um dos modos pelo qual uma sociedade era considerada perfeita e bem desenvolvida. Enfim, Maritain propõe uma nova significação para o termo humanismo diferente do pensamento moderno.

O humanismo maritanista “tende essencialmente a tornar o homem mais verdadeiramente humano, e a manifestar sua grandeza original, fazendo-o participar de tudo o que, na natureza e na história [...] o possa enriquecer; suas exigências são exaustivas, levando o homem a desenvolver suas virtualidades intrínsecas, suas forças criativas e a vida da razão, se esforçando também a transformar as forças do mundo físico em instrumentos de sua liberdade”. (MARITAIN, 1945, p. 298).

Contrapondo ao idealismo moderno, Maritain ressalta que o humanismo deve atingir dimensões que vão além do imanente, pois o ser humano não é somente biológico ou social, mas ele é também transcendente. O ser humano integral pensado por Maritain é fundamentado na perspectiva cristã. Segundo ele, a ação da pessoa passa do puramente material para o espiritual. O homem como pessoa apóia-se num fundamento transcendente, na abertura a Deus. Desse modo, o humanismo integral reconhece o ser humano nas suas várias dimensões, como sujeito cultural e social, psicológico e espiritual, imanente e transcendental.

O ser humano, enfim, não é um ser reduzível, mas um ser aberto, aberto principalmente ao absoluto, que é Deus. Deus que fora colocado de lado pela época moderna, por esta ser extremamente antropocêntrica, agora na visão humanista de Maritain recebe sua devida consideração, já que para o pensador francês, espiritual e temporal caminham juntos e adquire para a sociedade uma nova forma de ser e existir. O ser humano é um todo e torna-se impossível compreendê-lo por completo senão reconhecer sua integralidade.

MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1945.

sábado, 7 de agosto de 2010

Novos hóspedes em casa - Parte I


Por Emerson Alves dos Santos

Moro em uma casa enorme; na verdade quase uma mansão. Familiares não moram comigo, mas também não moro só; moro com alguns hóspedes. Sim, hóspedes. Gosto de dar abrigo às pessoas e, já que espaço em casa não falta, por que não fazê-lo? Há alguns meses chegaram novos hóspedes, e eu vou lhes contar hein! Como são bagunceiros esses novatos! Nem bem chegaram e já instalaram a desordem em minha casa. Parecem até o furacão Katrina, destruindo parte dos EUA. Nunca coloquei ninguém para fora de casa. Meus hóspedes chegam, ficam algum tempo e depois vão embora por si próprios. Alguns ainda retornam com o passar do tempo; outros creio que nunca mais verei; muitos moram comigo há anos. Mas, como estava dizendo, nunca alguém foi expulso. Porém esses novos não me deram outra escolha; exigi que se retirassem, mas eles recusaram. Vocês acreditam nisso?! Recusaram-se a sair de minha casa! Que absurdo! Não, isso não é correto, a casa é minha e nela mora quem eu quero. Disse a eles que se não saíssem iria chamar a polícia para tirá-los à força e sabem o que me responderam? Que não adiantaria eu expulsá-los não, pois eles retornariam, mais cedo ou mais tarde, e em número ainda maior. Não, basta! Se somente esses poucos já fizeram uma baderna enorme, imaginem um número maior! Parece até loucura, mas acabei deixando-os ficar. E foi a partir daí que minha vida começou a mudar...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Orfandade



Por Joice Giachini

Recentemente, estando em contato com uma das obras apostólicas que minha família religiosa coordena, tive a oportunidade de conhecer a realidade de um grupo de crianças órfãs. Todavia, soa estranho se dirigir a elas dessa forma, seus genitores não morreram, essas crianças foram afastadas de sua parentela devido à violência doméstica que sofriam, tornando inconcebível sua permanência junto aos seus consanguíneos: são órfãos de pais vivos. Para seguir para a adoção essas crianças precisam fazer algo extremamente cruel, que destoa com a candura de seus corações: viver quase uma situação de óbito de seus genitores, para novamente, talvez, chamar outras pessoas de pais.

Além da tristeza que essa situação despertou em mim, pensava que essa mesma vicissitude é sentida e experimentada por centenas de pessoas. Contudo, agora, me dirijo à dimensão espiritual do ser humano: homens e mulheres que se comportam como se fossem órfãs de um Pai que está vivo. Tais pessoas fizeram a opção de viver como se a sua existência não estivesse ligada a Deus. Nessa alternativa de vida se despreza a carência que o ser humano possui de uma história que o ligue aos demais homens, que indique sua procedência e que produza laços de irmandade.

Nietzsche, de certa forma, ao proclamar a morte de Deus, profetizara essa falta de conjuntura. Alguém que aceite essa premissa declara inconscientemente que acredita em sua orfandade.

Depois disso, o problema se acentua onde enfim se colocará sentido para a historicidade da humanidade, cala dentro de cada indivíduo um questionamento essencialmente existencialista: "De onde viemos?... O que estamos fazendo aqui?" e "Para onde vamos?" E mais, se a orfandade fosse mesmo real, quem e o que poderá assumir a adoção do gênero humano?

Talvez o que a humanidade precisa urgentemente é ouvir a feliz proclamação de que Deus está vivo! No hodierno pouco ou nada se fala Dele, e quando se faz, é de forma equivocada. Ele está vivo e é Pai! É preciso encontrá-Lo no coração, para que Ele seja a referência da grande viajem que todo ser humano efetua no transcurso da vida.

Mesmo que o céu se vire e não haja paz, um ponto fixo permanecerá. Deus é a estrela segura, tudo gira em torno Dele, em função Dele, não importa como, onde, quando. Deus é Pai, Ele aconchega cada um de seus filhos quando a frieza do mundo os vergasta. Quando há lágrimas e dor, Deus visita seus rebentos e os conforta. O sofrimento que a recusa do reconhecimento da filiação divina causa no Coração de Deus é proporcional ao Seu amor pela humanidade.

Definitivamente Deus é Pai, porque renova Seus ensejos das realizações que sonha para a humanidade, permitindo o avanço gradual e contínuo dos Seus filhos, no rumo da vivência feliz que todos anelamos. Deus nos criou para a perfeição, aguardando que galguemos os degraus da santidade, no rumo dos altos céus.

domingo, 25 de julho de 2010

A Resposta

Por João Paulo Leal Meireles
joaopioh@hotmail.com



Um pedido muito especial de uma amiga mais que especial.

Eiii, como vai? Que bom que nos encontramos de novo. Eu? Eu estou ótimo. Não, eu não encontrei aquele botão... graças a Deus! Sim, é verdade. Eu parecia obstinado a encontrá-lo, mas depois descobri que não era de um botão que eu precisava. Eu precisava mesmo era de uma RESPOSTA.

É, eu estive meio confuso, mas hoje eu sei que esquecer não era o que eu precisava. Definitivamente não era.

Aliás, esquecer um amor por causa de um sofrimento ou porque o final não foi aquele que esperávamos é crueldade.

E todos os momentos bons, não devem ser lembrados? E tudo aquilo que foi construído? E o quanto aprendemos, crescemos... deve ser apagado da memória só por que o fim não foi o que um dia desejamos? E quem foi que falou que tudo aquilo que desejamos é sempre igual àquilo que é melhor pra gente?

Ora, francamente! Ou se aprende isso ou estamos fadados a sofrer até o último dia de nossas vidas.

Por mais que não termine da maneira como gostaríamos, o amor sempre constrói, modifica e nos torna melhores. É inevitável, sabia? E ainda bem que eu não encontrei o tal botão. Seria como voltar a ser o que era antes do amor chegar e aí, se eu quisesse mesmo estar pronto para o amor, teria que começar tudo de novo, (risos).

Mas então, como eu ia dizendo, o que eu precisava era de uma resposta e é até engraçado falar, mas a resposta estava muito mais perto do que eu imaginava. A resposta para não sofrer por um amor que foi embora é... mais amor!

Não parece óbvio? E é simples assim. E não se trata de substituição também não. Não é trocar um amor por outro amor, Deus me livre. E sabe por quê?

Porque o amor é um só. Ele se apresenta de diversas formas e cada uma dessas formas nos ensina alguma coisa.

Existem muitos caminhos que podem nos conduzir ao encontro do amor, mas no fim ele é sempre o mesmo. É algo que nos completa, que nos faz felizes, que nos faz sorrir assim sem nem saber o porquê.

Então, se for esquecer-se de algo, escolha esquecer-se de esquecer o amor. A vida sem amor não é vida. É, eu já disse isso antes, eu sei. Ah, e fique atento, porque mais cedo ou mais tarde o amor sempre volta, já que nascemos para amar, ser amados e assim, e só assim, sermos felizes.

Se cuida, ein? Tchau.



segunda-feira, 12 de julho de 2010

Saudade


Por João Paulo Leal Meireles

A senhorita Clara morava na casa amarela, na Avenida Presidente Antônio Carlos, número 25. Todos os dias, pontualmente às dezessete horas e quinze minutos, ela sentava-se na cadeira de balanço na varanda de sua casa para esperar o filho chegar da escola. Isso era tudo o que os vizinhos sabiam sobre ela, já que Clara nunca teve ou procurou ter amizades na vizinhança.

Geralmente Bruninho chegava a sua casa entre dezessete e vinte e dezessete e vinte e cinco, e nunca aconteceu de ele chegar sem que sua mãe estivesse ali na varanda a espera dele. Bruninho era o único fruto bom que Clara trazia consigo daquela violação sexual, sofrida ainda na juventude.

Depois do nascimento do filho, Clara nunca se interessou por homem algum e dedicava a vida exclusivamente a cuidar do pequeno Bruno. Pequeno mesmo, pois Bruninho sempre foi franzino, frágil e incapaz de fazer mal a um pequeno animal, até mesmo àqueles dos quais ele não gostava muito.

E por todos os dias nos quais Bruninho ia à escola o ritual se repetia. Até que um dia aconteceu algo diferente: Bruninho não retornou. Nem às dezessete e vinte, nem às dezessete e vinte e cinto e nem mesmo às dezessete e trinta. A senhorita Clara não soube o que fazer e começou então a entrar em pânico.

Eis que um pouco mais tarde chega à casa amarela uma senhora de idade já avançada, cabelos grisalhos e com aquela aparência de quem leciona há muitos anos. Era dona Carmem, diretora do colégio no qual Bruninho estudava. Ela estava ali para dizer à mãe de Bruninho que seu filho havia sido atropelado bem em frente à escola, logo que a aula terminou e que quando a equipe médica chegou, nada pôde ser feito.

— É mentira! Gritou a mãe desesperada enquanto parecia se desfazer em prantos. A senhora não pode estar falando a verdade. Meu Bruninho vai voltar, ele sempre volta.

Então a senhorita Clara bateu com a porta na cara de dona Carmem. A diretora do colégio percebeu que a mãe de Bruninho não reagiu muito bem à notícia da morte do filho e procurou contatar outros parentes do menino.

E eis que quando a avó de Bruninho chega à casa amarela, na Avenida Presidente Antônio Carlos, não vê Clara sentada na varanda, mas vê a porta aberta. Ao entrar, a avó de Bruninho vê sua filha caída no chão segurando um bilhete que dizia: Meu filho atrasou mais do que o de costume, senti saudades e fui ao encontro dele. Não demoro.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Da dor à Vida


Por Joice Giachini

Quem pode curar-me?!
Não sabe ele dizer-me o que desejo
É um saber sem sentido
Um entender não entendido.

Vivo sem viver em mim
Sem saber como perseverar
Vivendo onde já se vive
Deste viver o que será?
Se vivo assim, mais morro.

Por que não toma o roubo que já roubaste?
Redobra-se assim em mim a dor
Neste sítio sombrio vejam-te meus olhos
Porque deles és a luz
Para eles somente os quero ter.

Neste padecer, persiste dentro em mim
A música calada
A solidão sonora
A noite serena
As quais não quero mais que toquem os umbrais.

Não direi o que sinto
Nem lamentarei o que vivo
Este mal é tão inteiro
Solidão de amor ferido.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Natureza: Livro escrito por Deus e um bem para o ser humano


Por Izaque Ferreira Real

O respeito e a preservação da natureza revestem-se de grande importância atualmente, designadamente porque a natureza se constitui como um verdadeiro livro escrito por Deus e um bem para o ser humano. Salvaguardá-la torna-se um imperativo para a humanidade.

Com efeito, são inúmeros os descasos e os perigos que ameaçam a vida dos seres vivos. Basta olhar a realidade mundial: aquecimento global, poluição desenfreada, mudanças climáticas assustadoras, escassez de água, desmatamento sem limites, mudanças no regime das chuvas, entre outros fatores.

A crise ecológica é visível. Ela revela o quanto o ser humano está em conflito consigo mesmo, com as demais pessoas e com o mundo que o circunda. A escolha do homem “por privilegiar o racional e o pragmático em detrimento do afetivo gerou um mundo muito desenvolvido do ponto tecnológico, mas doente no aspecto relacional”[1].

Sem dúvida, a relação entre pessoa humana e natureza foi rompida. Em nome do seu egoísmo e da sua ânsia por riqueza, o ser humano se colocou como dominador da natureza, exercendo uma exploração absoluta sobre ela. “Os recursos naturais foram dilapidados para aumentar o lucro de alguns em detrimento da maioria, colocando em risco nossa própria sobrevivência”[2] .

A extração inconsiderada dos bens da natureza põe em perigo não somente o meio ambiente, mas o próprio homem, pois ele também é vítima da degradação provocada ao planeta. Direta ou indiretamente o ser humano sofre com aquilo que se causa a Terra.

A situação ecológica que se encontra a sociedade hoje é reflexo da cosmovisão moderna, onde a concepção de um antropocentrismo apontava para a existência dual de realidade: de um lado, “sujeito”, de outro, “objeto”. Esta divisão, dualidade, na qual o sujeito, enquanto indivíduo, adquiria suma relevância e as demais coisas existentes eram somente objetos que estariam a sua disposição, possibilitou considerar a natureza como elemento sem alma e também os outros homens como meros sujeitos incorpóreos, porque o que ganhava importância era “o eu penso”, fechado em si mesmo. Daí se evidencia que tanto a natureza quanto os próprios seres humanos poderiam ser dominados e explorados.

A cosmovisão moderna fragmentou a concepção de mundo. Por isso, no momento atual é decisão sensata realizar uma revisão profunda e clara no modelo de vida estabelecido e no desenvolvimento político-econômico global, buscando favorecer uma consciência ecológica na geração presente. Trata-se de elaborar uma resposta coletiva que valorize o respeito pela natureza e o desenvolvimento integral do ser humano.

Enfim, necessita-se urgentemente que se pense na reciprocidade entre dignidade humana e dignidade do planeta, pois se se fere a natureza, o ser humano também é ferido. “A natureza, entendida como o conjunto de todas as criaturas, deve ser protegida pelo que ela é e não enquanto eventual potencial à disposição do ser humano. O planeta deve ser, portanto salvaguardado em nome de uma dignidade que, para todos os efeitos, lhe é própria”[3] .

A relação de interdependência e interligação entre todas as coisas do universo é fundamental para a existência do ser humano, enquanto “ser-no-mundo”.


Referências:
[1] SILVA, Isabelle Ludovico da. O papel da mulher na conservação do meio ambiente. In. Revista Ultimato, Ano XLII – N° 318, Maio-Junho 2009. p.58.
[2] Ibidem, p.58.
[3] TAVARES, Sinivaldo Silva. A criação em face do novo paradigma ecológico: dom de Deus e responsabilidade humana. In. Revista Convergência, Ano XLV – N° 430, Abril 2010. p. 278.

O Pipoqueiro Suicida


Por Cláudio Roberto da Silva

Ele a conhecera quando ainda guria, comemorava seus quatro anos, foi encanto a primeira vista, num domingo de inverno do mês de julho, quando as folhas das árvores da Praça de Santo Antônio caíam ao chão ressecadas. Seus olhos azuis pálpebras enrugadas de parecer cansado, brilharam ao ver a menina que vestia um macacãozinho Jeans e nas mãos um pirulito daqueles enormes e um sorriso de estalar vidros. A mãe num primeiro momento achou que o velho a cortejava, pensando ser ela o alvo de seus olhares, ao perceber que era a filha o objeto de sua apreciação se assustou, mas logo se acostumou, pois sabia convencidamente que a filha era mesmo uma criatura encantadora. A menina olhou com seus olhos lindos e arregalados para o pipoqueiro e num grito de menina moleca disse:

- Moço me dá um pacote de pipocas, daqueles bem grandes e coloridos! Ele arriscou uma aproximação e perguntou;

- Qual é o nome da menina linda que me pede pipocas?

Ela respondeu no mesmo grito revelando seu nome. Não direi qual era, para não causar uma comoção ainda maior na estória, mas posso adiantar que era lindo e combinava com flores.

Dois anos se passaram como relâmpagos das tardes de dezembro, a amizade deles crescia e todos os domingos depois da missa das seis, era religiosamente certo o encontro, em que a mãe levava a bela para comer pipocas e prosear com o mais novo amigo.

Naquele domingo da quaresma o pipoqueiro estava misterioso e não conversara com ninguém de sua casa e na praça a todos olhavam com rabo-de-olhos. Algo o incomodava. Suas pipocas pareciam amargas. Quando um casal de jovens pediu-lhe com voz chorosa um saco de pipocas de sal.

- Coitada. Dizia um ao outro.

-Todos os domingos eu a via nessa mesma praça comendo pipocas, foi morta cruelmente, e o carrasco parecia um animal, além de matá-la abusou de sua inocência. O velho pipoqueiro, ao ouvir aquelas palavras que invadiram a alma como um torpedo nas águas de uma praia, assustou e fugiu, entre os becos da Alvino Olegário. Em seu rosto lágrimas incertas e amargas, ao povo que a tudo via se perguntavam; - Que louco! O que deu no velho, e como ficam as pipocas!

Na manhã de segunda o velho fora encontrado suspenso por uma corda que envolvia o pescoço e em uma de suas mãos, uma espécie de carta suicida, que dizia em letras garranchadas.

“Dizem que suicida vai direto para o inferno, sem direito a julgamento. Eu o fiz em forma de protesto, quem sabe em posse do motivo pelo qual me levou a tal ato, reflitam um pouco os de alma carrasca e comportamento animal. Talvez assim me valha o céu. Se não valer mesmo assim ficarei contente, pois saberei que um dia encontrarei por lá o autor da desgraça que não merecia a minha pobre menina e enfim vingarei...”.

Soneto Decassílabo do Amor


Por Roseane de Loudes Miguel


Homem que entraste em minha vida
sonho com seus carinhos amado
cristalino sentimento provado
e contigo me sinto vivida.


Suas palavras encantam o coração
sua boca anjo tem a verdade
em ti encontro a sinceridade
contigo amor não tenho solidão.


Sua beleza é como a flor
minha vida pertence a seus braços
sem ti só me resta algo, a dor.


Teu sorriso é muito sensual
tu tens um olhar que me fortalece
com você quero ir até o final.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Homenzarrão


Por Cláudio Roberto da Silva

- Mamãe, o que é um homem zarrão? Perguntou o menino atônito, parecia ter descoberto uma mata virgem e estar aflito por desbravá-la.

- Um homenzarrão é um homem muito grande meu filho. Respondeu a mulher de olhar perdido no horizonte, e meio sorriso em lábios.

- Iguais aqueles das revistas em quadrinhos e os desenhos animados da televisão?

- Sim meu filho, ou até maiores que estes!

O pentelho franziu a testa, como se tentasse buscar na mente informações que lhe atestasse a cerca do que poderia ser tal coisa, ao mesmo tempo em que ajuntava em seu vocabulário, palavras para construir sua próxima pergunta.

- O meu pai é um homem zarrão mamãe?

A palavra pai a fizera se desprender do presente, e mergulhar como que num túnel do tempo em seus pensamentos, em busca das melhores lembranças daquele que seu coração ama. Ela uma bela jovem de seus 30 anos que acabara de completar sem muita festa, sempre tentava responder a todas as perguntas e curiosidades do filho. Mãe igual a essa é difícil até de se imaginar, aos 15 anos se casou com seu primeiro e único homem. Ele, homem do campo, centrado no trabalho e perfeitamente dedicado à família. Sua baixa estatura nunca o incomodou, e jamais o impedira de trabalhar e nem tão pouco se divertir com a família.

Aquele era seu único filho ela o olhava deitado na cama e seu olhar parecia se perder na atmosfera do cronos, pensava no quanto os anos se passaram rápido desde o seu casamento e tentava medir o quanto aquele menino era especial para ela.

- Mãe, você não me respondeu...

A voz fina de menino falante, suave e rasinha como alguém cansado, arrancou-a pelos braços daquela espécie de viagem astral por seus pensamentos, e a fez recobrar a linearidade dos fatos.

-... O papai é um homem zarrão?

- Não filho, um homenzarrão é muito maior que seu pai, agora vá dormir que amanhã bem cedo o médico vai vir para olhar você.

O menino tossiu por quatro vezes e se contorceu na cama, quando a dor aliviou um pouco tentou dormir, em seus últimos pensamentos antes dormir tentava desvendar o enigma: “Quem poderia ser tal figura maior que seus bravos heróis imaginários? E o que poderia ser maior que um pai?” À medida que se tornava mais difícil a resposta, seus olhinhos lentamente se entregavam ao sono que inevitavelmente vinha. A mãe, atenta o olhava com um profundo olhar de perda.

- Mãe, quando a gente sair daqui, você me leva para conhecer um des...? Resmungou o menino, já absorto no sono. Nem escutou a mãe dizer:

- Sim filho, claro que eu levaria...

A noite corria ironicamente calma, apesar da triste sentença dada pela medicina, ela enxuga suas lágrimas para tentar dormir, o dia próximo lhe reservava emoções muito fortes e ela precisava estar bem para suportar tudo.

Às três da manhã, hora em que devotos e rezadeiras despertam para a primeira oração do dia, o menino em sonho teofânico abre os olhos e vê adentrar o quarto um ser estranho, alto e de beleza encantadora, podia se ver que sorria e em sua volta uma luz ofuscante sem ser agressiva. Minha mãe devia estar aprontando de novo, ela trouxe o tal homem aqui para eu poder conhecê-lo e não me avisou.

Ele vislumbrava com aquela visita, olhava para os lados e percebia que a mãe já acordada chorava, não conseguia entender o porquê das lagrimas maternas, mas o sorriso daquele que o olhava o cativava a se sentir perenemente feliz. Que mistério envolvia o olhar daquele homem, que atração magnética os tomava tanto um quanto a outro. O mais incrível é que Pedrinho, apesar da tenra idade não se assustava e nem se intimidava com a visão, e ver a mãe chorando, misteriosamente não o incomodava. Ele parecia tomado de uma plenitude de contentamento.

- Então você é o homem zarrão que minha mãe falou.

- Sim filho Eu Sou...

De repente a voz do conto se calou em minha mente e as palavras foram desaparecendo de minha caneta esferográfica, quando Yeshuah fez calmamente ressoar sua voz.

- Venha filho, já é hora, voltemos para o outro lado.

Em homenagem a Pedro Lucas ( In memorian ). Tempo Quaresmal. Março de 2010.

Caminhos


Por Rodrigo Adamczwski Ott


Viajei muito tempo
Para encontrar o significado.
Ainda caminho
Por não ter encontrado.


As portas abrem
Sem eu saber o porquê.
Estou indeciso
Se ando com você.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Viajante


Por João Paulo Leal Meireles

José Eurico, ou Zé Eurico como era mais conhecido, caminhava por uma estrada. Estrada esta diferente das outras, porque não havia possibilidade de voltar pelo caminho já percorrido. Era como se a estrada se desfizesse atrás de seus pés a cada passo dado pelo nosso viajante.

Durante o caminho, Zé Eurico conhecia pessoas, umas interessantes e outras nem tanto. Algumas chegavam até a acompanhá-lo por um trecho ou outro do caminho, mas, por mais que quisessem, nenhuma delas podia caminhar por José Eurico. Talvez elas pudessem ajudá-lo retirando algumas pedras do caminho, mas era o nosso viajante quem tinha de traçar e dar cada passo.

Caminhando, ora sozinho, ora acompanhado, Zé percebia que não estava simplesmente caminhando. Aqueles passos eram muito mais do que simplesmente colocar um pé na frente do outro. Ao caminhar, Zé escrevia sua história.

E assim, Zé Eurico prosseguiu sua trajetória até que se viu, não mais diante de um caminho, mas de uma bifurcação em “Y”. “?” Pensou Zé por uns instantes. Ele sabia que uma vez escolhido um dos caminhos, não haveria mais volta.

“Como escolher?” Pensou José Eurico. Nada sabia sobre os caminhos, nem ao menos onde eles iriam terminar. Antes era fácil, só havia um caminho e a única coisa que Zé precisava fazer era colocar um pé na frente do outro e aproveitar o caminho. Mas e agora? Pra que lado deveria o nosso viajante caminhar?

E Zé sentou-se no exato ponto onde a bifurcação se fazia e ficou olhando para os caminhos propostos...

E depois de muito pensar e pensar, eis que surge um outro viajante. Ao passar por Zé, o outro viajante apenas acenou com o chapéu, escolheu rapidamente um dos lados e partiu. Ao ver a determinação e a maneira como aquele homem tinha decidido por um dos caminhos, Zé levantou-se e gritou:

_ Ei. Quem é você?

_ Eu sou um viajante. E você? – disse o homem que diminuía seus passos, mas nunca parava.

_ Eu também sou um viajante.

_ Viajante? Parado aí olhando para o caminho você só pode ser um observante, mas jamais um viajante.

E seguiu o homem a caminhar...

Depois de muito pensar, Zé percebeu que de nada adiantaria ficar ali parado. Enquanto o viajante estava ali sentado apenas admirando os caminhos ele não podia nem ao menos dizer que era um viajante.

Percebeu também que não havia diante dele dois caminhos, mas apenas um, pois no momento em que fizesse a sua escolha e voltasse a caminhar, o outro caminho não mais existiria para ele.

Levantou, respirou fundo e optou pelo caminho oposto àquele escolhido pelo outro viajante. Pensou Zé “quero eu mesmo fazer o meu caminho e não trilhar o caminho por outros já percorrido”.

E logo nos primeiros passos viu uma trouxa pesada na beira da estrada, mas Zé nem chegou perto dela. Era a dúvida. Zé sabia que a dúvida não era boa companhia. Ela tentaria prender o viajante no caminho que não fora escolhido e mais tarde iria convidar a angústia para caminhar junto a eles.

Seguiu então Zé Eurico de cabeça erguida e sem olhar para trás.

domingo, 20 de junho de 2010

Antagonismo em Caim e Abel

Por Joice Giachini

Céu e inferno, Ying Yang, tradicionalismo e arbitrariedade, Caim e Abel,... São inúmeros os antagonismos presentes nas diferentes tradições religiosas. Forçoso é dizer que, a despeito dos melhores esforços de todas elas, o ceticismo, a dúvida, a indiferença ganham terreno dia a dia. Mas deixo esse ponto que deve ser amplamente discutido e examinado para outro momento, onde poderá receber toda a atenção que merece. Gostaria mesmo é de considerar atentamente alguns pormenores do relato bíblico, referente a Caim e Abel, o qual bem representa essa tendência religiosa. O texto possui um grande apelativo moral e denota fortes traços do antagonismo presente nas três grandes religiões monoteístas.
Desde o início da narrativa é apresentada uma diferença significativa entre Caim e Abel, respectivamente um pertence à classe agrícola (sedentarismo) e o outro a pastoril (seminomadismo). São economias paralelas para Israel, mas que se encontram sujeitas ao conflito, devido à questão da posse da terra, especialmente em períodos de seca, quando os pastores precisam se achegar ao território dos agricultores. Portanto, é a ótica do seminomadismo que prevalece no texto, desvinculado e distante das cidades. No restante do Gênesis será Abraão que melhor irá expressar o nomadismo independente. A visão, de que no agreste o indivíduo se encontra livre da violência e da opressão, é reforçada quando Caim parte para Nod, que em hebraico seria o particípio do verbo perambular.
O seminômade tem pouco a oferecer, a não ser sua resistência contra o sistema de opressão. Abel é assim, o seu próprio nome nada significa, nem ao menos é o primogênito. Contudo esse dado também possui grande relevância, existem outros casos na Bíblia onde exatamente o filho mais novo é o preferido, é o caso de Isaac, Jacó, José do Egito, Davi,... Abel ganha preferência por que oferta a Iahweh as primícias de seu trabalho, já Caim apresenta o corriqueiro. A oferta de cada um demonstra a realidade de suas vidas.
Abel é assassinado! Antes disso Iahweh adverte Caim quanto ao rancor que cultiva no coração, Deus oferece sua palavra a ele porque não o rejeita, deseja conservar a fraternidade. Nada irrita mais um homem do que ser repreendido pela sua atitude orgulhosa, Caim não O ouve e a morte entra na humanidade através do ódio que ele gestou. O convite que ele faz ao seu irmão Abel, para irem até o campo, local não muito frequentado, denota que o crime fora premeditado. Depois do delito, Caim ostenta indiferença e arrogância diante dos questionamentos de Iahweh, mas este lhe provoca o despertar da consciência. Na falta de um defensor humano, o sangue derramado por terra clama pela justiça divina. A terra que foi embebida com o sangue de Abel torna-se depois instrumento de castigo para Caim, não lhe fornecerá mais o alimento e sobre ela deverá peregrinar.
Caim apela a Iahweh, pede-lhe proteção, pois sente que os efeitos de seu pecado são insuportáveis, deseja a proteção divina. Deus marca Caim para que não seja cometido contra ele o mesmo crime, gesto que denota que Iahweh refuta o desejo de vingança, mas não retira o castigo por completo.
Com isso Caim passa para a mesma categoria de Abel, torna-se migrante seminômade, torna-se um protegido especial de Iahweh. A estrutura: culpa, castigo e promessa, presente também em outras narrativas, é conservada, dando ao indivíduo a formulação da lei. Todavia, a conduta humana não deve brotar do legalismo, o amor precisa vencer o condicionamento. A alteridade deve brotar da consciência de forma tal, que se constitua um imperativo categórico.

sábado, 19 de junho de 2010

Sexualidade, não genitalidade!


Por Tiago Eurico de Lacerda


A sexualidade deve ser vista de uma forma integral, o ser humano é todo sexual, vive sua vida em funções sexuais, seja de relacionamentos familiares, afetivos, eróticos, enfim, a sexualidade permeia a nossa vida. Ao mencionar tal palavra, o que primeiro vem à nossa mente é um reducionismo ao genitalismo. É um erro reduzir a tão pouco um conceito tão amplo. As pessoas tendem a recordar e associar a sexualidade com os órgãos reprodutores, com o coito ou relações sexuais, mas a sexualidade não se resume nisso.
Mas então o que é a sexualidade? Essa pergunta grita dentro de nós em busca de um conhecimento mais profundo do nosso próprio ser. Inúmeras pessoas buscam ser felizes no amor, buscam gurus, cartomantes e inúmeros livros de autoajuda para satisfazerem seus desejos e angústias que na sua maioria estão relacionadas com a sexualidade, ou a má vivência da mesma. Antes de tudo gostaria de dizer que sexualidade não se reduz a uma única definição, mas poderemos encontrar várias, como na medicina, psicologia, sociologia e etc., conotações diferentes do mesmo termo. Segundo CASTELLANOS, "Sexualidade é uma energia, uma força positiva capaz de gerar vida, plenitude e realização. A sexualidade auxilia o desenvolvimento da pessoa, uma vez que possui uma grande variedade de elementos. Tem um dinamismo direcionado para uma conduta positiva que dá vida, embora passe, como todo processo, por diferentes etapas, nas quais há clareza e obscuridade, avanços e retrocessos" [1].
Por isso a sexualidade não pode ser vista isoladamente, mas na pessoa em seu todo, uma vez que tem a ver com o sexo, a procriação, a afetividade, o amor a espiritualidade, o prazer e outras dimensões importantes da vida. Ela tem a ver com a maneira de falar, de pensar, de expressar-se, de caminhar, de sentir, está presente o tempo todo na vida das pessoas, especialmente na alteridade. Nesta, percebemos rótulos; uma impressão de que existe um mundo dualista que divide os seres em machos e fêmeas, em papeis bem definidos que devem ser cumpridos. Mas devemos olhar o outro como um ser integral, um ser humano, que tem sua dignidade e peculiaridades. No Catecismo da Igreja Católica encontramos que “a sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, em sua unidade de corpo e alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de amar e de procriar e, de uma maneira mais geral, à aptidão a criar vínculos de comunhão com os outros”[2]. Não criamos vínculos com preconceitos e uma visão utilitarista, no sentido de aproveitar do outro, este não é um objeto que podemos lançar mão para os nossos deleites. Somos convidados a ver o outro como um ser integral, não somente genital.

Referências:
[1] CASTELLANOS, Luis Valdez. O dom da sexualidade, p.12.
[2] Catecismo da Igreja Católica, 2332, p.605.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Lembranças


Por Rodrigo Adamczwski Ott

Quando eu cantar
As flores vão chorar
E o verde, verdejante
Pela floresta continuará.

E juntos veremos o arrebol,
O sol está só,
Sem nuvens em nenhum lugar
Vejo só o que é.

Se não sinto como estou,
Nada sou.
Quando estou longe,
Algo me faz falta.

E você,
Mais nada,
Em casa cansada,
Não se lembra como estou.

O arrebol, o sol está só
Sem nuvem em nenhum lugar.

Assim estou,
Quando haverá mudança?
Viver sem você,
É viver somente com lembrança.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Espiritualidade do Seguimento


Por Joice Giachini

Dentro da perspectiva atual, o que significa o seguimento à pessoa de Jesus Cristo? Iniciar este artigo logo de início com tal questionamento denota um posicionamento pessoal de não querer ceder a um certo silogismo, que muitas pessoas caem ao tentar tratar de tal assunto. O desejo de encaminhar-se diretamente ao assunto notifica também, o anseio de que não mais se dê rodeios no protagonismo que o cristão, por vocação, deve assumir na sociedade.
O homem moderno vive uma autêntica fome de espiritualidade que pode ser interpretada como verdadeiro sinal dos tempos. É por isso que o tema já não pode mais ser tratado de forma evasiva. O pluralismo, a secularização e a fragmentação de valores que caracterizam a cultura contemporânea confrontam a espiritualidade cristã com novos desafios e perspectivas. E nesse sentido, se verifica que expressões da espiritualidade cristã, que foram significativas em tempos anteriores, hoje perderam sua relevância e necessitam de uma nova significação se quiserem novamente ser eloquentes.
Contudo, não se deve tencionar que a espiritualidade cristã seja o único antídoto para estas “enfermidades sociais”. Isso poderia ferir abertamente outras propostas sérias, de outras confissões religiosas, que se prestam ao resgate da dignidade da pessoa humana, podendo também fazer referência, no momento em que estamos aos problemas ecológicos.
Porém, ao ser dado relevo na pessoa de Jesus Cristo e na espiritualidade do seguimento, se quer apresentar lições que poderão promover uma maior comunhão com Deus e com toda a sua criação.
Cristo foi verdadeiramente o iniciador de um movimento que contrastou totalmente com a realidade de sua época, dando origem a uma espiritualidade não mais legalista e apegada a práticas externas, propôs uma espiritualidade comprometida com o todo do ser humano: tanto no nível afetivo, psíquico, relacional, fisiológico, sócio-político,... Com a sua pregação, seu jeito de ser e de se portar diante da realidade, redirecionou o ser humano para um outro nível de consciência de sua existência, abrangendo toda a vida, desde a cura até a plena realização do ser humano, na promoção de um mundo de justiça e de paz.
A radicalidade de Jesus e de sua proposta de vida mostra-se simples, direta, frontal, decisiva na exigência de que o ser humano elenque prioridades para si, deixando de lado valores ou hábitos ditos como provindos de sociedades mais evoluídas, concebidas por um capitalismo amiúde, pouco solidário e que deixam no coração humano resquícios de estranheza e frustração.
Em um mundo que se mostra sedento de espiritualidade, a proposta cristã mostra-se cativante e provocadora, ao buscar conduzir o indivíduo à unidade com Deus, consigo próprio, com os outros e com o universo. Tal proposta pode ser refletida com a mente, mas somente será assumida com o coração.

Referência:
NOLAN, Albert. Jesus hoje: Uma espiritualidade de liberdade radical. São Paulo: Paulinas, 2007.

Obtenha este texto em PDF Espiritualidade do Seguimento

sábado, 12 de junho de 2010

O Botão


Por João Paulo Meireles

Cadê? Onde “tá”? Onde foi que o colocaram? Não é possível, eu não estou encontrando. Deve ter algo de errado. Eu vou reclamar! Não é possível que eles não tenham colocado ele em algum lugar. Deve estar em algum lugar por aqui. Eu sei que ele tem que estar.
Não, eu não sou maluco. Eu estou procurando um botão. É um botão. Onde? Em mim ora bolas. RS, não, não precisa ficar preocupado.
Não é o botão de auto-destruição, não. É o botão do esquecimento. Eu sei que ele tem que estar em algum lugar por aqui. Não é possível que tenham me feito sem um desses!
Talvez você esteja se perguntando o que eu quero esquecer. Bom, mas isso eu não vou contar. Não, eu não vou te contar. Ora, se eu estou tentando esquecer algo eu vou sair por aí contando pra ter que me lembrar cada vez que eu contar? Aí não tem botão que agüente. Por falar nisso cadê ele?
Me ajuda a procurá-lo? Umm, só ajuda se eu contar o que vou esquecer? Chato! Nem precisa, eu acho sozinho.
...
Ah, desisto. Acho mesmo que esqueceram de colocá-lo em mim. Bom, já que eu não posso esquecer, vou te dizer o que é: quero esquecer o amor. Por quê? Ora, não me interrompa! Agora que decidi contar, deixa-me contar de uma vez.
Quero esquecê-lo porque ele me faz sofrer. É claro que amor faz sofrer. Amor que vai embora deixa um vaziiiiio; quase que insuportável. Verdade. Você nunca amou, não?
Oh, que triste! A vida sem amor não é vida. Pior ainda é experimentar o amor um tiquinho só e depois você olha pro lado e ele não está onde deveria estar. Pra quem nunca viveu o amor isso é impossível de entender. Pra quem nunca o perdeu, menos ainda.
Amor é droga depreciativa do sistema “inteligencial”. É, a gente fica burro, sonso, não vê as coisas como elas realmente são. Mas é isso é que faz do amor a melhor coisa que existe. Ele cria um mundo próprio que só os que amam são capazes de ver, ouvir, tocar ou sentir.
...
Eu nem sei por que estou dizendo essas coisas. Era pra eu estar esquecendo o amor a uma hora dessas. Onde será que puseram aquele maldito botão?
O quê? Ah, você deve estar brincando. Como assim eu não tenho um botão do esquecimento? Eu sou o quê? Ser humano? E você vem me dizer que seres humanos não têm botão do esquecimento.
Então o que eu faço com isso? Essa dor, essa angústia, esses pensamentos que vão e vêm toda hora... Esquecer? Mas você mesmo não acaba de me dizer que eu não tenho um botão do esquecimento?
Por quê? Você quer saber por que ele foi embora? Ah, talvez por que não era amor. Ou talvez por que tinha de ir. Sei lá, mas isso não vem ao caso.
Ah, quer saber? Já que não tenho um botão do esquecimento, eu vou é lembrar! Vou lembrar de tudo o que vivi, de como me senti, de tudo que fizemos de bom, de todos os momentos felizes ao lado dele.
Me pergunta se ele ainda vive? Mas é claro que vive! Vive em mim. Vive nas lembranças. O amor ainda vive no amor que existe em mim.

Obtenha este texto em PDF: O Botão
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