quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Pipoqueiro Suicida


Por Cláudio Roberto da Silva

Ele a conhecera quando ainda guria, comemorava seus quatro anos, foi encanto a primeira vista, num domingo de inverno do mês de julho, quando as folhas das árvores da Praça de Santo Antônio caíam ao chão ressecadas. Seus olhos azuis pálpebras enrugadas de parecer cansado, brilharam ao ver a menina que vestia um macacãozinho Jeans e nas mãos um pirulito daqueles enormes e um sorriso de estalar vidros. A mãe num primeiro momento achou que o velho a cortejava, pensando ser ela o alvo de seus olhares, ao perceber que era a filha o objeto de sua apreciação se assustou, mas logo se acostumou, pois sabia convencidamente que a filha era mesmo uma criatura encantadora. A menina olhou com seus olhos lindos e arregalados para o pipoqueiro e num grito de menina moleca disse:

- Moço me dá um pacote de pipocas, daqueles bem grandes e coloridos! Ele arriscou uma aproximação e perguntou;

- Qual é o nome da menina linda que me pede pipocas?

Ela respondeu no mesmo grito revelando seu nome. Não direi qual era, para não causar uma comoção ainda maior na estória, mas posso adiantar que era lindo e combinava com flores.

Dois anos se passaram como relâmpagos das tardes de dezembro, a amizade deles crescia e todos os domingos depois da missa das seis, era religiosamente certo o encontro, em que a mãe levava a bela para comer pipocas e prosear com o mais novo amigo.

Naquele domingo da quaresma o pipoqueiro estava misterioso e não conversara com ninguém de sua casa e na praça a todos olhavam com rabo-de-olhos. Algo o incomodava. Suas pipocas pareciam amargas. Quando um casal de jovens pediu-lhe com voz chorosa um saco de pipocas de sal.

- Coitada. Dizia um ao outro.

-Todos os domingos eu a via nessa mesma praça comendo pipocas, foi morta cruelmente, e o carrasco parecia um animal, além de matá-la abusou de sua inocência. O velho pipoqueiro, ao ouvir aquelas palavras que invadiram a alma como um torpedo nas águas de uma praia, assustou e fugiu, entre os becos da Alvino Olegário. Em seu rosto lágrimas incertas e amargas, ao povo que a tudo via se perguntavam; - Que louco! O que deu no velho, e como ficam as pipocas!

Na manhã de segunda o velho fora encontrado suspenso por uma corda que envolvia o pescoço e em uma de suas mãos, uma espécie de carta suicida, que dizia em letras garranchadas.

“Dizem que suicida vai direto para o inferno, sem direito a julgamento. Eu o fiz em forma de protesto, quem sabe em posse do motivo pelo qual me levou a tal ato, reflitam um pouco os de alma carrasca e comportamento animal. Talvez assim me valha o céu. Se não valer mesmo assim ficarei contente, pois saberei que um dia encontrarei por lá o autor da desgraça que não merecia a minha pobre menina e enfim vingarei...”.

Um comentário:

Painel X - New Writers disse...

Caro Cláudio,
É sempre uma honra poder partilhar contigo um pouco sobre nosso amor pela escrita. Parabéns pelo texto, ressalta a dor que é vivida por muitos e que leva a morte. O que podemos fazer para ajudar a humanidade a vencer o mal que é injetado em suas veias? Acredito que a resposta começa com o amor...
Parabéns pelo texto!
O Editor.

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