segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Viajante


Por João Paulo Leal Meireles

José Eurico, ou Zé Eurico como era mais conhecido, caminhava por uma estrada. Estrada esta diferente das outras, porque não havia possibilidade de voltar pelo caminho já percorrido. Era como se a estrada se desfizesse atrás de seus pés a cada passo dado pelo nosso viajante.

Durante o caminho, Zé Eurico conhecia pessoas, umas interessantes e outras nem tanto. Algumas chegavam até a acompanhá-lo por um trecho ou outro do caminho, mas, por mais que quisessem, nenhuma delas podia caminhar por José Eurico. Talvez elas pudessem ajudá-lo retirando algumas pedras do caminho, mas era o nosso viajante quem tinha de traçar e dar cada passo.

Caminhando, ora sozinho, ora acompanhado, Zé percebia que não estava simplesmente caminhando. Aqueles passos eram muito mais do que simplesmente colocar um pé na frente do outro. Ao caminhar, Zé escrevia sua história.

E assim, Zé Eurico prosseguiu sua trajetória até que se viu, não mais diante de um caminho, mas de uma bifurcação em “Y”. “?” Pensou Zé por uns instantes. Ele sabia que uma vez escolhido um dos caminhos, não haveria mais volta.

“Como escolher?” Pensou José Eurico. Nada sabia sobre os caminhos, nem ao menos onde eles iriam terminar. Antes era fácil, só havia um caminho e a única coisa que Zé precisava fazer era colocar um pé na frente do outro e aproveitar o caminho. Mas e agora? Pra que lado deveria o nosso viajante caminhar?

E Zé sentou-se no exato ponto onde a bifurcação se fazia e ficou olhando para os caminhos propostos...

E depois de muito pensar e pensar, eis que surge um outro viajante. Ao passar por Zé, o outro viajante apenas acenou com o chapéu, escolheu rapidamente um dos lados e partiu. Ao ver a determinação e a maneira como aquele homem tinha decidido por um dos caminhos, Zé levantou-se e gritou:

_ Ei. Quem é você?

_ Eu sou um viajante. E você? – disse o homem que diminuía seus passos, mas nunca parava.

_ Eu também sou um viajante.

_ Viajante? Parado aí olhando para o caminho você só pode ser um observante, mas jamais um viajante.

E seguiu o homem a caminhar...

Depois de muito pensar, Zé percebeu que de nada adiantaria ficar ali parado. Enquanto o viajante estava ali sentado apenas admirando os caminhos ele não podia nem ao menos dizer que era um viajante.

Percebeu também que não havia diante dele dois caminhos, mas apenas um, pois no momento em que fizesse a sua escolha e voltasse a caminhar, o outro caminho não mais existiria para ele.

Levantou, respirou fundo e optou pelo caminho oposto àquele escolhido pelo outro viajante. Pensou Zé “quero eu mesmo fazer o meu caminho e não trilhar o caminho por outros já percorrido”.

E logo nos primeiros passos viu uma trouxa pesada na beira da estrada, mas Zé nem chegou perto dela. Era a dúvida. Zé sabia que a dúvida não era boa companhia. Ela tentaria prender o viajante no caminho que não fora escolhido e mais tarde iria convidar a angústia para caminhar junto a eles.

Seguiu então Zé Eurico de cabeça erguida e sem olhar para trás.

10 comentários:

Painel X - New Writers disse...

João Paulo,
Eu não poderia perder a oportunidade de comentar o seu belo texto. OS caminhos sempre existem, sempre a dúvida estará lá nos derpertando curiosidades...
Mas o que mais gostei de seu texto foi a determinação de que quando se escolhe um caminho o outro não deve mais existir. É verdade, precisamos ser coerentes conosco mesmo e escolher com autonomia um caminho que nos leve à uma paz interior. Nem sempre os caminhos éticos nos levam a felicidade, mas nos tornam homens íntegros na sociedade, o que parece faltar hoje em dia devido a tantos caminhos que aparecem e não sabemos qual seguir.
Parabéns!!!
O Editor.

Unknown disse...

Amigo, adorei o texto! Uma crtica eminente sobre nossa trajetoria, evidenciando as "pedras" que por nela aparecem!

Nao sabia que vc tinha tino para escritura, e particularmente adorei a linguagem que usou no seu texto, eu como leitor meramente assiduo de tudo q aparece, adorei a logica que usou para desencadear o seu trabalho.

Kaiser

Unknown disse...

Gostei muito do seu texto, são palavras sábias que nos levam a pensar realmente como estamos escolhendo o nosso caminho, se somos viajantes ou observantes das possibilidades que podem surgir.

Elis Santiago disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Elis Santiago disse...

João,

Faço votos que as palavras fiquem definitivamente em sua vida. Como peão da palavra, sei o quão importante são as palavras escritas, registradas na memória de quem as lê. Escrever sobre o amor, o caminho a ser seguido, a dor, os dramas humanos... Redigir sobre sentimentos nos faz pôr em prática nosso ponto de vista. Continue a se espressar, a redigir, a falar sobre o amor que emana da sua alma. Quero ver mais textos seus, continuar a acompanhá-lo.
Um grande abraço
Elis

Raquel disse...

João Paulo,

Lindo, lindo lindo! Acho que seu texto traduziu um pouco o momento que estou vivendo.

Meu amigo, às vezes a dúvida e a angústia tornam-se fardos muito pesados impedindo-nos de seguir em frente...Seria tão bom podermos simplesmente seguir em frente. Por que complicamos tanto a vida?rs

Ansiosa pelo próximo texto!

Abçs.,

Raquel

Tiago Lacerda disse...

João,
Parabéns pelo texto!
Veja que no estudo do existencialismo percebi que a angústia, o desespero e a dúvida são nossas companheiras. Se tentamos fugir delas, caimos numa melancolia, depois disso vamos rezar para voltar à angústia, rsr. Pois bem, o seu texto mostra a realidade e a vida como ela é. É real sem deixar de ser romântico. Você consegue nos prender ao texto. O melhor de tudo é que tem conteúdo existencial, fala de dentro do coração.
E agora uma bincadeira, o nome do personagem... qualquer semelhança... rsrs. Como eu já vi escrito aqui, fala um pouco da minha vida, creio que fala da vida de cada um de nós.
Obrigado amigo!

Unknown disse...

Oi meu amigo.
Venho novamente parabenizá-lo pelo maravilhoso texto que escrevestes.
Quantos Zés estão ao nosso redor, e quantos Zés não nos habitam na hora de tomar uma decisão, fazer uma escolha.
Que conseguimos exorcisar estes Zés que estão dentro de nós e fazer como o Zé do teu texto ... seguir em frente de cabeça erguida, não importa o caminho que escolhemos.
Super abraço pra ti.

Igor Brumano disse...

Estive pensando, enquanto lia, todos nós temos realmente dois caminhos pra escolher na maioria das vezes...

Não sei se poderia ser eu no lugar de Zé, nosso viajante; não sei se teria a coragem de andar sem dar a mão a alguém, não sei se teria a coragem de seguir justamente o caminho oposto por ele ser novo...
Nem sei se continuaria sentado por mais um longo tempo observando as coisas de um lado e as coisas de outro...
Sei lá se eu olharia até a largura de um caminho que eu pretendesse seguir pra ver se seria mais fácil ou mais difícil, mais "bonito" ou mais "feio"...

Sei que me vi na pele do Eurico por um segundo, e vi sua sombra do meu lado... sua sombra me dizendo: "anda minino! vai depressa que a vida continua!"...
acho até que meus olhos se encharcaram ao lembrar que tive você quando precisei...

Só queria dizer que amei o seu texto... tanto quanto amo você e cada coisa que você faz, e cada conselho que você me dá (mesmo que eu acabe não o seguindo)...

Amo você, meu amigo... meu irmão *-*

Obrigado por tudo!
Vou seguir sempre esse blog agora =D
Abraçãão! (e saudades!)

Wesley disse...

Olha...li esse texto três vezes e a cada lida percebia novas particularidades e aproximação com algumas fases que passei em minha vida. Um texto, que aparentemente é simples é ao mesmo tempo bem dinâmico, pois consegue envolver o leitor em vários ângulos e aí está a essência da coisa.
Realmente um excelente texto. Continue produzindo-os, pois muitas vezes eles nos ajudam a enxergar coisas que por algum motivo qualquer não tivemos chance de ver e/ou que não paramos para pensar, de fato, importante.

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