quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Orfandade



Por Joice Giachini

Recentemente, estando em contato com uma das obras apostólicas que minha família religiosa coordena, tive a oportunidade de conhecer a realidade de um grupo de crianças órfãs. Todavia, soa estranho se dirigir a elas dessa forma, seus genitores não morreram, essas crianças foram afastadas de sua parentela devido à violência doméstica que sofriam, tornando inconcebível sua permanência junto aos seus consanguíneos: são órfãos de pais vivos. Para seguir para a adoção essas crianças precisam fazer algo extremamente cruel, que destoa com a candura de seus corações: viver quase uma situação de óbito de seus genitores, para novamente, talvez, chamar outras pessoas de pais.

Além da tristeza que essa situação despertou em mim, pensava que essa mesma vicissitude é sentida e experimentada por centenas de pessoas. Contudo, agora, me dirijo à dimensão espiritual do ser humano: homens e mulheres que se comportam como se fossem órfãs de um Pai que está vivo. Tais pessoas fizeram a opção de viver como se a sua existência não estivesse ligada a Deus. Nessa alternativa de vida se despreza a carência que o ser humano possui de uma história que o ligue aos demais homens, que indique sua procedência e que produza laços de irmandade.

Nietzsche, de certa forma, ao proclamar a morte de Deus, profetizara essa falta de conjuntura. Alguém que aceite essa premissa declara inconscientemente que acredita em sua orfandade.

Depois disso, o problema se acentua onde enfim se colocará sentido para a historicidade da humanidade, cala dentro de cada indivíduo um questionamento essencialmente existencialista: "De onde viemos?... O que estamos fazendo aqui?" e "Para onde vamos?" E mais, se a orfandade fosse mesmo real, quem e o que poderá assumir a adoção do gênero humano?

Talvez o que a humanidade precisa urgentemente é ouvir a feliz proclamação de que Deus está vivo! No hodierno pouco ou nada se fala Dele, e quando se faz, é de forma equivocada. Ele está vivo e é Pai! É preciso encontrá-Lo no coração, para que Ele seja a referência da grande viajem que todo ser humano efetua no transcurso da vida.

Mesmo que o céu se vire e não haja paz, um ponto fixo permanecerá. Deus é a estrela segura, tudo gira em torno Dele, em função Dele, não importa como, onde, quando. Deus é Pai, Ele aconchega cada um de seus filhos quando a frieza do mundo os vergasta. Quando há lágrimas e dor, Deus visita seus rebentos e os conforta. O sofrimento que a recusa do reconhecimento da filiação divina causa no Coração de Deus é proporcional ao Seu amor pela humanidade.

Definitivamente Deus é Pai, porque renova Seus ensejos das realizações que sonha para a humanidade, permitindo o avanço gradual e contínuo dos Seus filhos, no rumo da vivência feliz que todos anelamos. Deus nos criou para a perfeição, aguardando que galguemos os degraus da santidade, no rumo dos altos céus.

Um comentário:

Painel X - New Writers disse...

Cara Joice,
Desculpe-me a demora em descrever tal apreciaçao sobre seu texto. Há sempre tempo para retomar e para se refazer com os amigos, espero que esta demora não seja oportuna para uma bronca em mim, rsrs.
Pois bem, seu texto é instigante! Gosto de quando fala de coisas concretas e nos leva a refletir esta concretude da vida pautada com espiritualidade. A orfandade é notório tanto no sentido das crianças que relatou, quanto no segundo sentido, de um mundo sem Deus, sem um Pai que pode direcionar e guiar seus filhos em caminhos seguros. Mas acredito que o nosso papel seja o mesmo de muitos orfanatos, esperar que um pai venha adotar uma criança, a diferença é que nós temos um Pai que já se entregou por cada um destes "perdidos" filhos, mas devemos é conscientizá-los de que este é o Pai que o quer e que tem muito amor a oferecer e curar nossas tristezas, enfim. Obrigado por nos lembrar disso!
O Editor.

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