segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Homem e a sua sexualidade a partir das Ciências Humanas - Parte III

por Tiago Eurico de Lacerda

3. Compreender a sexualidade do homem na sociedade hodierna

Quando falamos em sexualidade, logo nos remetemos à noção de genitalidade, o que é muito comum na sociedade atual. O sexo como visto pelas ciências humanas é algo que o homem recebeu, mas o que fazer com este sexo é algo propriamente construído. Não podemos estabelecer parâmetros para a vivência deste como faz a sociedade dividindo de uma forma dualista entre machos e fêmeas. Mas devemos observar este fenômeno com suas complexidades e experiências na modernidade.

Precisamos verdadeiramente de um verdadeiro sexo? Com uma constância que beira a teimosia as sociedades do acidente moderno responderam afirmativamente a essa pergunta. Elas obstinadamente fizeram intervir esta questão do “verdadeiro sexo” em uma ordem de coisas na qual se podia imaginar que apenas contam a realidade dos corpos e a intensidade dos prazeres. [1]

Percebe-se como a sociedade com seu aparelho repressor tem o poder de manipular a vida das pessoas levando-as a reproduzir o que está contido como valores socialmente aceitos. Dentre estes é apresentada a sexualidade monogâmica heterossexual, como também a opressão das mulheres e de uma forma grosseira a desigualdade social que é tida como natural. Desta forma, contestar estas práticas seria anormal porque este padrão já está estabelecido na sociedade. Perpassamos pelo discurso da homossexualidade que levaria consigo a questão se é natural ou não, contudo o importante resguardar os direitos que cada um tem de ter a sua orientação sexual e não ser punido por isto.

Somos tolerantes em relação as práticas que transgridem as leis. Porém continuamos a pensar que algumas delas insultam a “verdade”: um homem “passivo”, uma mulher “viril”, pessoas do mesmo sexo que se amam. Talvez haja a disposição de admitir que isto não é um grave atentado à ordem estabelecida, porém estamos sempre prontos a acreditar que há nelas um grave “erro”. [2]

Este erro é entendido no sentido mais filosófico que aponta uma maneira de fazer que não é adequada à realidade. Mas que, sobretudo não estando em consonância com o socialmente admissível é levada a ideia de um sexo único e verdadeiro e que cada pessoa deve desempenhar o seu papel na sociedade de acordo com o seu sexo. Devido a estes ideais muitas pessoas se fecham em seus mundos deixando de ser elas mesmas e forçando uma vida que não corresponde ao seu desejo interno e muitas vezes formação biológica, para satisfazerem a demanda social. Em alguns lugares como na índia este tema é mais difícil de perceber porque a afetividade entre homens é mais assídua que no ocidente que olha para eles com preconceitos e julgam ser ações antinaturais, enquanto são apenas ações culturais e socialmente aceitas. Encontramos aqui o ser humano que não sabe ao certo o que ele é, não só na sua sexualidade, mas em sua vida e sociedade. Este homem não pode dominar o que faz, pois a sua natureza própria consiste em opor-se à natureza que está fora de si. Este homem e sua sexualidade é fruto de uma construção social que não pode dar conta de si mesmo, quedando-se sem respostas diante de tal impasse.


[1] FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, Política. p.82.
[2] FOUCAULT, M. Ética, sexualidade, Política. p.85.

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