domingo, 15 de agosto de 2010

O ser humano integral


por Izaque Real

Falar de ser humano integral é falar da pessoa nos seus diferentes aspectos, procurando mostrar que ela não deve ser reduzida a um único ponto, mas vista na sua totalidade. A integralidade humana é fundamental para que se entenda o homem nas suas diversas manifestações. Todavia, a integralidade humana nem sempre foi pensada dessa forma. O humanismo ou os humanismos que se desenvolveram, dificilmente enfocava o ser humano como ser integrado, como um todo, onde suas partes estão interligadas.

O homem moderno, por exemplo, distanciou-se de si mesmo. Ele foi reduzido a matéria e pensamento. A modernidade apresentou para a sociedade um antropocentrismo exacerbado, onde o ser humano era capaz de tudo. A realidade racionalista e também empirista levou o homem a abandonar a ideia de transcendência, fixando-se no imanente.

O humanismo moderno, que tem sua fonte no Renascimento (fins do século XIV), concentrou nas mãos do homem um poder de se autogerar. Tentando solucionar os problemas de sua existência, o ser humano procurou eliminar a questão de Deus. No entanto, isso o conduziu ao esvaziamento do significado de humano, no sentido integral.

O homem para preencher este vazio ocupou-se de coisas terrenas, caindo num consumismo e utilitarismo, derivados da concepção de mundo moderna. O homem passa a ser um objeto, sendo manipulado de acordo com sua utilidade. O ser humano deixa, portanto, de ser interpretado na sua integralidade. Um aspecto e outro acabam adquirindo importância em detrimento do todo da pessoa e de seu conjunto de caracteres que a denomina como “humano”.

É diante dessa concepção de ser humano que aparece o Humanismo Integral. Humanismo este desenvolvido pelo pensador francês, Jacques Maritain (1882-1973). Maritain procura com o humanismo integral resgatar a ideia de homem que está aberto ao transcendente. Para isso, ele busca conciliar cristianismo e humanismo, já que na modernidade, esta junção tornara-se impossível, pois a visão de “super homem” era um dos modos pelo qual uma sociedade era considerada perfeita e bem desenvolvida. Enfim, Maritain propõe uma nova significação para o termo humanismo diferente do pensamento moderno.

O humanismo maritanista “tende essencialmente a tornar o homem mais verdadeiramente humano, e a manifestar sua grandeza original, fazendo-o participar de tudo o que, na natureza e na história [...] o possa enriquecer; suas exigências são exaustivas, levando o homem a desenvolver suas virtualidades intrínsecas, suas forças criativas e a vida da razão, se esforçando também a transformar as forças do mundo físico em instrumentos de sua liberdade”. (MARITAIN, 1945, p. 298).

Contrapondo ao idealismo moderno, Maritain ressalta que o humanismo deve atingir dimensões que vão além do imanente, pois o ser humano não é somente biológico ou social, mas ele é também transcendente. O ser humano integral pensado por Maritain é fundamentado na perspectiva cristã. Segundo ele, a ação da pessoa passa do puramente material para o espiritual. O homem como pessoa apóia-se num fundamento transcendente, na abertura a Deus. Desse modo, o humanismo integral reconhece o ser humano nas suas várias dimensões, como sujeito cultural e social, psicológico e espiritual, imanente e transcendental.

O ser humano, enfim, não é um ser reduzível, mas um ser aberto, aberto principalmente ao absoluto, que é Deus. Deus que fora colocado de lado pela época moderna, por esta ser extremamente antropocêntrica, agora na visão humanista de Maritain recebe sua devida consideração, já que para o pensador francês, espiritual e temporal caminham juntos e adquire para a sociedade uma nova forma de ser e existir. O ser humano é um todo e torna-se impossível compreendê-lo por completo senão reconhecer sua integralidade.

MARITAIN, Jacques. Humanismo Integral. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1945.

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